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CINEMA ESTRÉIAS
Maternidade e sexo compõem novelesco "Despertar"
AMIR LABAKI
de Nova York
"O Despertar do Desejo" é um
filme com a cara de seu diretor,
Alan Rudolph. Ambos resultam
muito aquém do que, por momentos, anunciam.
Comecemos por Rudolph. É o
pupilo dileto de Robert Altman
("Nashville"), de quem foi assistente de direção. Altman até assina
a produção desse seu mais recente
longa-metragem.
Rudolph, 54, passou à direção há
mais de duas décadas. No início
dos anos 80, traduziu em dois filmes a melancolia que marcaria toda a década: "Corações Solitários" (1984) e "Trouble in Mind"
(1986). Desde então, só decepcionou. Dois fracassos marcaram
fundo: "The Moderns" (1987),
sobre a Paris festiva dos anos 30, e
"O Círculo Vicioso - A Vida de
Dorothy Parker" (1994), sobre a
Manhattan na era da turma do Algonquim.
Seu último filme afasta-se das
frustrantes experiências com produções de época e aposta num retorno ao universo contemporâneo, marcado aqui como antes por
desencantos amorosos, aventuras
sexuais e coincidências de vaudeville. Uma diferença marcante:
Rudolph hiperestiliza menos seu
cinema, que, em seus melhores
momentos anteriores, remetia às
telas de Edward Hopper.
A ênfase transfere-se agora para
o desenvolvimento da trama e para o detalhamento dos personagens. Nem sempre muda-se para
melhor.
Troca de casais
Em "O Despertar do Desejo",
tudo gira em torno de uma involuntária troca de casais infelizes. O
mais velho é formado por um mulherengo faz-tudo conhecido como Lucky (Nick Nolte) e uma depressiva ex-atriz de filme B de terror, Phyllis (Julie Christie, indicada ao Oscar).
O casal jovem reúne Jeffrey
(Jonny Lee Miller), um yuppie reprimido, e Marianne, uma bela e
fútil ex-"patricinha".
A maternidade é a questão central das moças. Tanto Phyllis
quanto Marianne buscam filhos; a
primeira para reconquistar uma
dolorosa experiência anterior, a
segunda para, no mínimo, ocupar
melhor o tempo disponível.
Sexo distingue os rapazes. Lucky
é promíscuo sem jamais perder o
carinho por suas conquistas. Jeffrey parece capaz de acariciar apenas o próprio ego.
Uma visita de Lucky para consertar uma porta na "high tech"
casa dos riquinhos põe em movimento o enredo típico de uma novela das sete.
A equipe que o encena por vezes
contamina o filme com certo distanciamento irônico.
É como se "O Despertar do Desejo" passasse a desenrolar-se em
dois níveis, espelhando as duas
línguas (francês e inglês) faladas
na Montreal que lhe serve de cenário. Pena que a ilusão jamais mantenha-se por muito tempo.
Filme: O Despertar do Desejo
Produção: EUA, 1998
Direção: Alan Rudolph
Com: Nick Nolte, Julie Christie, Lara Flynn
Boyle, Jonny Lee Miller
Quando: a partir de hoje, nos cines Interlar
Aricanduva 10, Liberty e Gemini 1
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