São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA ESTRÉIAS
Maternidade e sexo compõem novelesco "Despertar"

AMIR LABAKI
de Nova York

"O Despertar do Desejo" é um filme com a cara de seu diretor, Alan Rudolph. Ambos resultam muito aquém do que, por momentos, anunciam.
Comecemos por Rudolph. É o pupilo dileto de Robert Altman ("Nashville"), de quem foi assistente de direção. Altman até assina a produção desse seu mais recente longa-metragem.
Rudolph, 54, passou à direção há mais de duas décadas. No início dos anos 80, traduziu em dois filmes a melancolia que marcaria toda a década: "Corações Solitários" (1984) e "Trouble in Mind" (1986). Desde então, só decepcionou. Dois fracassos marcaram fundo: "The Moderns" (1987), sobre a Paris festiva dos anos 30, e "O Círculo Vicioso - A Vida de Dorothy Parker" (1994), sobre a Manhattan na era da turma do Algonquim.
Seu último filme afasta-se das frustrantes experiências com produções de época e aposta num retorno ao universo contemporâneo, marcado aqui como antes por desencantos amorosos, aventuras sexuais e coincidências de vaudeville. Uma diferença marcante: Rudolph hiperestiliza menos seu cinema, que, em seus melhores momentos anteriores, remetia às telas de Edward Hopper.
A ênfase transfere-se agora para o desenvolvimento da trama e para o detalhamento dos personagens. Nem sempre muda-se para melhor.
Troca de casais
Em "O Despertar do Desejo", tudo gira em torno de uma involuntária troca de casais infelizes. O mais velho é formado por um mulherengo faz-tudo conhecido como Lucky (Nick Nolte) e uma depressiva ex-atriz de filme B de terror, Phyllis (Julie Christie, indicada ao Oscar).
O casal jovem reúne Jeffrey (Jonny Lee Miller), um yuppie reprimido, e Marianne, uma bela e fútil ex-"patricinha".
A maternidade é a questão central das moças. Tanto Phyllis quanto Marianne buscam filhos; a primeira para reconquistar uma dolorosa experiência anterior, a segunda para, no mínimo, ocupar melhor o tempo disponível.
Sexo distingue os rapazes. Lucky é promíscuo sem jamais perder o carinho por suas conquistas. Jeffrey parece capaz de acariciar apenas o próprio ego.
Uma visita de Lucky para consertar uma porta na "high tech" casa dos riquinhos põe em movimento o enredo típico de uma novela das sete.
A equipe que o encena por vezes contamina o filme com certo distanciamento irônico.
É como se "O Despertar do Desejo" passasse a desenrolar-se em dois níveis, espelhando as duas línguas (francês e inglês) faladas na Montreal que lhe serve de cenário. Pena que a ilusão jamais mantenha-se por muito tempo.

Filme: O Despertar do Desejo Produção: EUA, 1998 Direção: Alan Rudolph Com: Nick Nolte, Julie Christie, Lara Flynn Boyle, Jonny Lee Miller Quando: a partir de hoje, nos cines Interlar Aricanduva 10, Liberty e Gemini 1


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.