São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

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MODA
Fotógrafo peruano, que está no Brasil para fazer o catálogo da Zoomp, afirma que a tristeza não lhe interessa
Simplicidade marca os 90, diz Testino

JACKSON ARAUJO
especial para a Folha

Começa na próxima segunda-feira, dia 20, a temporada de lançamentos das coleções para o verão 98/99 das principais marcas de moda brasileira reunidas em torno do MorumbiFashion Brasil.
Em sua quinta edição, o evento deixa de acontecer no prédio da Fundação Bienal e passa a ocupar o espaço do Jockey Club de São Paulo até a próxima sexta, 24.
Os 20 desfiles acontecerão em três tendas especialmente montadas para acolher imprensa, compradores e convidados.
Marcas difusoras de tendência como M.Officer, Forum e Zoomp preparam estratégias de marketing e fazem da fotografia de moda e das artes plásticas uma alavanca para o lançamento de suas coleções.
Leia a seguir entrevista com o fotógrafo peruano Mario Testino, 43, que veio ao Brasil para fotografar a campanha publicitária da marca paulista Zoomp.

Folha - Como o sr. define a fotografia de moda nos anos 90?
Mario Testino -
Um retorno à simplicidade. Quando comecei, em 76, a fotografia de moda tinha ainda a referência da mulher do passado. Agora o que vale é a parte interior das pessoas, pois até os anos 80 tudo era muito superficial, muito boneca Barbie.
Hoje, uma boa foto de moda é aquela que você vê e sente alguma coisa e não só fica deslumbrado com as roupas.
Folha - A melancolia é um traço marcante?
Testino -
Não no meu trabalho, que sou da América do Sul, onde tudo é positivo, tudo é novo e diferente. Mas a melancolia é um fato no trabalho de fotógrafos como Juergen Teller, David Sims e Mario Sorrenti, que têm um ponto de vista muito escuro da vida. Eu só vejo o lado positivo, não me interessa a tristeza.
Folha - Que fotógrafos o sr. admira?
Testino -
Eu adoro Helmut Newton, Richard Avedon e Cecil Beaton; são os três de moda que eu mais olhei. Gosto também de August Sanders e do peruano Martin Chambi, que documentaram muito bem suas épocas.
Folha - Como será a campanha publicitária da Zoomp?
Testino -
Acho que uma boa campanha é aquela que interessa aos jornalistas, produtores de moda e também aos consumidores. Descobri que tenho a capacidade de incorporar um pouco de publicidade em meu trabalho. O fotógrafo tem que transmitir a imagem da marca e a imagem tem que fazer a roupa vender.
Então fotografei a Eva Herzigova em Paris para a linha jeans, com o braço engessado para criar uma nova sensualidade, e depois vim para o Rio de Janeiro para fotografar só modelos brasileiras, como a Gisele Bundchen e a Fernanda Tavares.
Folha - Há algum traço marcante nas modelos brasileiras que as diferencia de outras modelos?
Testino -
Os corpos. A Gisele Bundchen e a Fernanda Tavares juntas são inacreditáveis. Eu as vi num desfile em Paris e observei como emprestam vida às roupas.
Folha - Como foi assinar a edição "Chic" da "Visionaire"?
Testino -
Uma experiência incrível, pois eles me deixaram completamente à vontade para fazer o que queria. Pensei no conceito de chique como uma maneira de não ser egocêntrico, então eu fiz tudo ao redor da contribuição.
Folha - No prefácio o sr. diz que ser chique é muito mais do que ter alguma coisa ou vestir-se bem. Chique é a maneira como você se relaciona com as outras pessoas. O sr. já foi maltratado por alguém do mundo da moda?
Testino -
Quando comecei, muitas pessoas me trataram mal. Eu não tinha o look do fotógrafo de moda, sempre fui um pouco burguês e em Londres as pessoas preferiam os fotógrafos de jeans rasgados e sujos. Eu chegava todo bem vestido e elas se sentiam em competição comigo.
Um dia a editora de uma revista falou pra mim que eu nunca ia ser um bom fotógrafo. Dizer isso para alguém que está começando é horrível.
Folha - Em alguns trabalhos o sr. revela valores culturais como tradição, religiosidade e família. Há alguma ironia nisso ou são valores nos quais o sr. acredita?
Testino -
Eu gosto muito dessas coisas. Quando eu comecei, esses valores não eram "cool", então eu não podia fazer verdadeiramente isso porque não conseguia trabalho. Mas agora, quando falo isso, é bom, as pessoas acreditam, eu sempre que posso fotografo as coisas boas da vida. Não tem que ser hiperestranho para fazer uma coisa boa.
O sr. pensa em dirigir filmes publicitários de moda?
Testino -
A Madonna me pediu para dirigir seu próximo videoclipe, da canção "The Power of Goodbye". Acho que a canção vai ser um hit, mas não sei se vou fazer. Gostaria mesmo era de dirigir um filme. O meu trabalho é muito narrativo e isso tem muito a ver com o fato de eu criar uma história na minha cabeça quando vou fotografar as pessoas.



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