São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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MÚSICA
"Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo", sétimo disco da cantora, tem inéditas de Caetano e Gil
Cássia Eller cobiça o "primeiro time"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Chicão, 5, não gosta muito de "O Segundo Sol". Chicão é Francisco, filho único de Cássia Eller, 36, e "O Segundo Sol" é a balada movida a cordas de Nando Reis que a cantora carioca escolheu para faixa de trabalho de seu sétimo disco, "Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo", e já frequenta as rádios brasileiras.
"O Chicão adora a música do Carlinhos Brown, mas de balada ele não gosta", ela diz.
É que Chicão gosta de Nirvana. E Cássia Eller diz que, mesmo não transparente, a presença mais constante no disco é a de Nirvana.
"A guitarra que sobra no final de "Um Branco, um Xis, um Zero" imita Nirvana, é em homenagem ao Chicão. Quando ele ouviu, falou: "Mãe, isso parece Nirvana!"."
Ela continua: "Pensei muito no Nirvana para gravar. É engraçado, porque é um disco suave, não parece. Mas não acredito mais em bons cantores, prefiro os maus cantores. Kurt Cobain não cantava bem, mas dizia tudo".
Mas, por outra, o que transparece em "Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo" é a produção do titã Nando Reis, também autor de quatro músicas no CD, e de Luiz Brasil, músico de Caetano Veloso, que ajudaram a suavizar o canto sempre agressivo de Cássia ("Quero frear a agressividade. Não aguento me ouvir, não consigo escutar os discos anteriores. Deste eu gosto").

Degrau
Chicão não deve ter pensado nisso, mas sua mãe, em nova versão sensualizada na capa, com tufos falsos de cabelo longo e só de camiseta e calcinha (e sem elas, no encarte), acaba de subir um degrau no cenário da MPB.
"Com Você..." representa a entrada de Cássia no dito "primeiro time" (leia quadro nesta página), inclusive com canções compostas para ela por Caetano Veloso ("Gatas Extraordinárias") e Gilberto Gil ("Pedra Gigante").
"No começo, neguinho amarrava suas músicas, não me dava para interpretar", diz, admitindo implicitamente a chegada a novo status.
"Mas não sei se tem isso, não. Eu é que morria de vergonha de pedir. Quando tive coragem, eles perguntaram por que eu não havia pedido antes."
De empresário novo (o mesmo de Marisa Monte), diz que não mudou de turma.
"Só aumentei. Abri mais o leque. Claro que a linha de pensamento do empresário influencia. Ele está fazendo com que eu me preocupe mais com minhas obrigações, pense mais, pondere mais. Sempre tive pavor de tudo isso, mas, com a psicologia infantil e animal dele (ri), nem está sendo sofrido."
Tanta profissionalização não pode acarretar efeitos adversos, como perda de espontaneidade? "Tenho medo (pausa). Mas por enquanto estou no jeito."
Primeiro álbum de Cássia só com canções inéditas, "Com Você..." baseou-se nesse padrão. Ela também é que foi batalhar por inéditas de Luiz Melodia ("Esse Filme Eu Já Vi") e Itamar Assumpção ("Aprendiz de Feiticeiro"), os dois únicos "sobreviventes" do underground no CD.
"Falei com Pedro Luís também, ele mostrou um monte de coisa boa, mas falando mais de problemas sociais. Lobão também mostrou três lindas. Mas acabei não cantando porque queria uma coisa mais suave, que falasse de amor. Essa é a unidade do disco. Estou casada há 11 anos com a Eugênia, e a vida está ótima. Ainda estou bem apaixonada."
Dos autores pouco conhecidos que chegaram a ser um projeto de disco, há pouco tempo, só ficou Luiz Capucho, com "Maluca". "Ele é de Niterói, está na vida há muito tempo. Ele não tem disco ainda, não está muito legal, tem Aids. Não sou a primeira a gravá-lo, Pedro Luís gravou "Máquina de Escrever"."
Instante inusitado é o da participação vocal, em "Pedra Gigante", de Nanci Ribeiro, mãe de Cássia. "Ela era cantora antes de casar com meu pai. Foi quem me ensinou tudo, cantava Dolores Duran, Maysa. Fiquei emocionada, e ela, supernervosa. Não sabia nem pôr o fone, mas gravou de primeira."
E Cássia não vai imitar a mãe no repertório? "Sinto dificuldade de cantar MPB, não tenho a suavidade deles. Mas me aguarde."


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