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MACHADO para iniciantes
"Memórias Póstumas", de André Klotzel, baseado na obra de Machado de Assis, estréia hoje no circuito comercial, após conquistar cinco Kikitos em Gramado
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta André Klotzel acha
que, "no fundo, "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é a história de
uma pessoa sem história". Mas,
ao ler o clássico inaugural da segunda fase de Machado de Assis
-aquela em que o autor atingiu
sua maioridade e consolidou uma
obra genial-, Klotzel foi fisgado
pela idéia de transpor para o cinema "essa história meio oca".
Na feitura do roteiro, fugiu de
consultorias sobre a obra de Machado (1839-1908) e o livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas"
(1881) em particular. "Quis firmar
meu impulso inicial." Buscou no
companheiro José Roberto Torero a parceria para chegar à versão
final do roteiro. "Eu me sinto confortável com a parte dramatúrgica, mas não com a verbal", diz.
Razão pela qual a divisão de tarefas encaminhou-se "naturalmente", e Torero surge nos créditos de "Memórias Póstumas", que
estréia hoje em diversas cidades
brasileiras, assinando os diálogos.
Competindo com outras quatro
produções brasileiras ("Bufo &
Spallanzani", de Flávio Tambellini, "Duas Vezes com Helena", de
Mauro Farias, "Netto Perde a Sua
Alma", de Beto Souza e Tabajara
Ruas, e "Urbania", de Flávio Frederico), o longa recebeu cinco Kikitos nas categorias principais no
29º Festival de Gramado, encerrado no último sábado: melhor filme, diretor, roteiro, prêmio da
crítica e atriz coadjuvante (para
Sônia Braga).
Na cerimônia de entrega dos
prêmios, Sônia Braga foi representada pelo colega de elenco Stepan Nercessian, que interpreta o
pai de Brás Cubas.
Encerrado o festival, a atriz divulgou nota em que diz: "Nada
me causa mais contentamento do
que receber um prêmio por um
trabalho que fiz no Brasil, na minha língua e, para completar, baseado no livro de um de nossos
maiores escritores".
Mas ponderou a alegria: "O Kikito que recebi chegou num momento de muita tristeza e que ainda tento entender: a partida de
Jorge Amado".
Para Klotzel, a boa recepção do
longa até aqui representa o acerto
de um equilíbrio difícil. "Depois
de começado um filme, não gosto
de fazer concessões mercadológicas, de obedecer a uma cartilha
comercial. Tenho de escolher
projetos que sejam viáveis comercialmente e, ao mesmo tempo, me
satisfaçam intimamente."
A fórmula deu certo em "A
Marvada Carne", sucesso em 85, e
falhou em "Capitalismo Selvagem" (94).
Desta vez, a interação com o público está focada principalmente
no espectador em início de carreira. "Memórias Póstumas" está escalado em três distintos projetos-escola, incluindo o da rede de
multiplex Cinemark, que possui
26 complexos de sala no país. São
iniciativas para formação de público, com exibições cinematográficas gratuitas.
"Tenho muito orgulho de participar de uma iniciativa para a formação de platéias", diz Klotzel.
Defendendo a vocação popular
do cinema nacional, Klotzel afirma que "deveria haver um CPB
[cinema popular brasileiro"", a
exemplo da existência da MPB.
"A música popular brasileira,
com todas as suas vertentes e variações, é a melhor representação
de que o fato de ser popular não
significa algo menos elaborado ou
pouco inteligente. É apenas mais
simples e popular por definição."
(SILVANA ARANTES)
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