São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MACHADO para iniciantes

"Memórias Póstumas", de André Klotzel, baseado na obra de Machado de Assis, estréia hoje no circuito comercial, após conquistar cinco Kikitos em Gramado

DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta André Klotzel acha que, "no fundo, "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é a história de uma pessoa sem história". Mas, ao ler o clássico inaugural da segunda fase de Machado de Assis -aquela em que o autor atingiu sua maioridade e consolidou uma obra genial-, Klotzel foi fisgado pela idéia de transpor para o cinema "essa história meio oca".
Na feitura do roteiro, fugiu de consultorias sobre a obra de Machado (1839-1908) e o livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) em particular. "Quis firmar meu impulso inicial." Buscou no companheiro José Roberto Torero a parceria para chegar à versão final do roteiro. "Eu me sinto confortável com a parte dramatúrgica, mas não com a verbal", diz.
Razão pela qual a divisão de tarefas encaminhou-se "naturalmente", e Torero surge nos créditos de "Memórias Póstumas", que estréia hoje em diversas cidades brasileiras, assinando os diálogos.
Competindo com outras quatro produções brasileiras ("Bufo & Spallanzani", de Flávio Tambellini, "Duas Vezes com Helena", de Mauro Farias, "Netto Perde a Sua Alma", de Beto Souza e Tabajara Ruas, e "Urbania", de Flávio Frederico), o longa recebeu cinco Kikitos nas categorias principais no 29º Festival de Gramado, encerrado no último sábado: melhor filme, diretor, roteiro, prêmio da crítica e atriz coadjuvante (para Sônia Braga).
Na cerimônia de entrega dos prêmios, Sônia Braga foi representada pelo colega de elenco Stepan Nercessian, que interpreta o pai de Brás Cubas.
Encerrado o festival, a atriz divulgou nota em que diz: "Nada me causa mais contentamento do que receber um prêmio por um trabalho que fiz no Brasil, na minha língua e, para completar, baseado no livro de um de nossos maiores escritores".
Mas ponderou a alegria: "O Kikito que recebi chegou num momento de muita tristeza e que ainda tento entender: a partida de Jorge Amado".
Para Klotzel, a boa recepção do longa até aqui representa o acerto de um equilíbrio difícil. "Depois de começado um filme, não gosto de fazer concessões mercadológicas, de obedecer a uma cartilha comercial. Tenho de escolher projetos que sejam viáveis comercialmente e, ao mesmo tempo, me satisfaçam intimamente."
A fórmula deu certo em "A Marvada Carne", sucesso em 85, e falhou em "Capitalismo Selvagem" (94).
Desta vez, a interação com o público está focada principalmente no espectador em início de carreira. "Memórias Póstumas" está escalado em três distintos projetos-escola, incluindo o da rede de multiplex Cinemark, que possui 26 complexos de sala no país. São iniciativas para formação de público, com exibições cinematográficas gratuitas.
"Tenho muito orgulho de participar de uma iniciativa para a formação de platéias", diz Klotzel.
Defendendo a vocação popular do cinema nacional, Klotzel afirma que "deveria haver um CPB [cinema popular brasileiro"", a exemplo da existência da MPB.
"A música popular brasileira, com todas as suas vertentes e variações, é a melhor representação de que o fato de ser popular não significa algo menos elaborado ou pouco inteligente. É apenas mais simples e popular por definição."
(SILVANA ARANTES)



Texto Anterior: Justiça: James Brown será julgado por assédio sexual
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.