São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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Baseado no best-seller homônimo, "O Diário de Bridget Jones" estréia hoje no Brasil

Mulher solteira procura

Divulgação
A atriz texana Renée Zellweger interpreta a jornalista trintona e frustrada Bridget Jones, inspirada no best-seller homônimo da escritora britânica Helen Fielding



Protagonista é fruto da "obsessiva imaginação feminina" da escritora britânica Helen Fielding


MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

A escritora Helen Fielding esclarece uma coisa logo de cara: ela não é Bridget Jones, e Bridget Jones não é ela.
Dito isso, a autora de "O Diário de Bridget Jones", best-seller que já vendeu mais de 5 milhões de cópias em 32 países, co-roteirista e produtora-executiva do filme homônimo, faz questão de registrar: "Bridget, ao contrário do que muita gente supõe, não existe. Ela é fruto da minha paranóica, doentia e obsessiva imaginação feminina. Os desastres que acontecem em sua vida quase aconteceram na minha. É só esse o paralelo".
A verdade é que a jornalista inglesa Fielding criou esse ícone pós-feminista quase ao acaso, quando, ao precisar de dinheiro para pagar o aluguel, propôs uma coluna vagamente baseada em sua vida ao jornal "The Independent".
"Tinha certeza de que a coluna duraria semanas. O jornal é daqueles esquerdistas, que trata de política e economia, e eu, no meio disso, escrevendo sobre os inconvenientes de não achar a meia-calça de manhã ou sobre não conseguir perder sete quilos", contou à Folha, em Los Angeles, onde mora.
Mas as "crônicas da mulher solteira, moderna e frustrada" ganharam popularidade, viraram livro e, antes que Fielding pudesse falar "quantas calorias comi hoje?", foram vendidas para Hollywood.
"Tentei adaptar o livro para as telas, mas a tarefa mostrou-se extremamente complicada", disse. Depois de ter alguns de seus esboços recusados pelos demais produtores, ela pediu ajuda ao roteirista Richard Curtis, de "Quatro Casamentos e um Funeral". "Em um roteiro, cada frase precisa dizer muitas coisas, as cenas devem ter significado imediato, não pode haver ação sem objetivo. No livro, posso fazer Bridget acordar e sair de casa após três horas."

Inspiração
Fielding conta que o conceito básico da coluna, do livro e do filme foi tirado de sua adolescência. "Ao encontrar um antigo diário, que listava detalhadamente as calorias que eu havia comido por dia durante um ano inteiro, percebi que havia ali uma trivialidade neurótica e engraçada que podia ser explorada", explica. "É essa idéia feminina de que nunca se pode ter tudo sob controle. Se sua bunda está bem moldada, a preocupação se volta para o trabalho ou para os relacionamentos. Somos muito duras conosco. Os homens não são."
E assim nasceu a estabanada Bridget Jones, uma mulher convencida de que ela é a única pessoa do mundo que ainda não conseguiu se dar bem e cuja vida se resume a tentar perder peso, parar de beber e de fumar e encontrar seu amor verdadeiro.
Conceitos superficialmente frágeis e que, por motivos óbvios, enervou feministas do mundo todo. "Se não pudermos rir de nossas fraquezas enquanto mulheres, não teremos conseguido chegar a lugar nenhum", defende-se Fielding, apontando aquela que ela considera a melhor tirada de Bridget: "Não tem nada que seja mais repelente para um homem do que o feminismo estridente".
"Mas eu sei exatamente o que Bridget quis dizer com essa frase e adoro todas as camadas da tirada", completa a escritora, que se esquiva de perguntas sobre sua idade, dizendo apenas que é da geração do colega e compatriota Nick Hornby [ele tem 44 anos".
"Feminismo não é brigar por pagamentos iguais ou convencer seu marido a lavar a louça. O âmago do feminismo está com as mulheres pobres da Escócia, com as que sofrem na África, com as reprimidas no Oriente Médio. Nós temos tudo com muita facilidade. Portanto, em vez de ficarmos estressadas com nossas imperfeições, por que não rir delas?"
As confusões do mundo pós-feminista de Fielding deram certo também em celulóide. Só nos EUA, "Diário" já arrecadou mais de US$ 70 milhões e está em pré-produção sua sequência.



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