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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Favelas e zona sul carioca se juntam em "Cidade dos Homens"

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O ator Douglas Silva na praia do Leblon, durante as gravações do episódio "Tem que Ser Agora"


CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO

"Desce já dessa moto. Acabou a cena, acabou a brincadeira. Quer se machucar? Aí você está ferrado." A bronca do assistente de direção é dada em pleno set de gravação, e quem a leva é ninguém menos que o ator principal. Darlan Cunha, o Laranjinha, dá de ombros. "Ele está é com inveja porque não pode andar de moto, está trabalhando. E você, quer dar uma volta de moto comigo?", pergunta à repórter.
Douglas Silva, que vive Acerola, o outro protagonista, desfila pela praia do Leblon molhado do mar e enrolado em um roupão branco, batendo papo com meninas que querem tirar uma foto com ele. "Douglas! Douglas! Vem gravar", grita a equipe de produção.
Assim funciona a gravação de "Tem que Ser Agora", um dos cinco episódios da nova safra de "Cidade dos Homens". Espécie de filha do longa "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, a produção independente da O2 Filmes exibida no ano passado pela Globo deve voltar ao ar em outubro.
"Aqui sou uma mistura de mãe, inspetora de colégio... Toda hora que vamos começar a rodar é preciso buscar o ator que está dentro da água, ou beijando alguma menina da figuração", conta Regina Casé, que dirige o episódio. É sua primeira experiência solo na direção, e ela não dispensou a ajuda de Meirelles em uma tomada com helicópteros e lanchas no mar.
A série terá cinco episódios, cada um com um diretor diferente -entre eles o próprio Meirelles, que já filmou seu "O Baile Funk". Os outros são Kátia Lund, Paulo Morelli e César Charlone.
De carona no sucesso do filme e com ótimos índices de audiência em 2002, "Cidade dos Homens" aborda a vida nas comunidades carentes do Rio e usa principalmente atores amadores que vivem nas favelas.
"O pessoal trouxe os amigos do morro, tem minha filha, as amigas de classe dela", diz Casé. "E os atores profissionais que temos são praticamente crianças", continua, referindo-se a Douglas e Darlan (o Dadinho e o Filé com Fritas de "Cidade de Deus", respectivamente). Ambos com 15 anos, eles nem parecem que estão trabalhando -apesar de pararem às vezes para dar autógrafos e tirar fotos. "Assim que é legal, trabalhar e zoar", diz Darlan.
Além de dirigir, Casé também escreveu "Tem que Ser Agora", em parceria com Jorge Furtado. Fala da convivência entre adolescentes ricos e pobres no Rio. A diretora cita uma frase de um dos personagens para explicar o episódio: "Ele diz: "Eu não gosto de praia, me deixa nervoso. Você vê uma menina bonita e não sabe se ela é do Vidigal ou do Leblon'".
Casé misturou a história pessoal dos atores com o roteiro do episódio. "Procurei misturar tudo, inverter os papéis. Tem ator do morro do Vidigal fazendo papel de menino rico da zona sul que namora menina do Vidigal...", diz. "Os personagens são o que eles vivem de verdade, as histórias deles. Estou colocando a ficção e a realidade juntas."



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