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LITERATURA
Escritores apresentam shows poéticos no evento "Outros Bárbaros", que ocorre no Itaú Cultural de hoje a sábado
Poetas ultrapassam fronteira do território da música
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ritmos entoados, rimas toando,
assonâncias acentuando-se, aliterações alternando. Toda a velha
arte da melopéia será agora apenas parte. De hoje a sábado, no
evento "Outros Bárbaros", do
Itaú Cultural, a poesia se aliará indissoluvelmente a uma de suas
tantas artes irmãs, talvez aquela
cujos traços mais se confundem
com os dela: a música.
Difícil é definir os termos dessa
aliança. Não se trata de poesia
musicada, ou de leitura de poemas acompanhada por arranjos
sonoros, segundo explica Ademir
Assunção, organizador do evento
e um de seus protagonistas. Serão
oito "shows poéticos", de oito
poetas distintos, que entoarão
suas obras ao som de instrumentos variados, modificando-os e
sendo modificados por eles. "A
intenção é transitar por essa fronteira indefinível que existe entre a
música e a poesia", diz Assunção.
A cada noite, dois poetas terão
total liberdade inventiva para performar tudo o que tiverem combinado -e também o que lhes calhar improvisar- com os guitarristas, violonistas, tecladistas, DJs
e percussionistas que os acompanharem. Cada show terá cerca de
40 minutos.
Hoje, dão início ao evento os
poetas Celso Borges e Frederico
Barbosa. Amanhã, farão seus
shows Artur Gomes e Rodrigo
Garcia Lopes. Na sexta, Marcelo
Montenegro e Chacal. Por fim, no
sábado, Ricardo Aleixo e o próprio Ademir Assunção, que aproveita a ocasião para lançar seu CD
"Rebelião na Zona Fantasma",
que guarda os princípios do evento e inclui parcerias com Zeca Baleiro e Edvaldo Santana.
"É a retomada da tradição poética oral, muito anterior a qualquer livro", diz Assunção, que verifica em parte do cenário da poesia brasileira um movimento nessa direção. Segundo ele, os poetas
convidados são apenas uma pequena amostra do que se vem fazendo nesse campo quase híbrido
de interação com a música.
Todos eles, de fato, vêm fazendo
trabalhos na área já há um certo
tempo, alguns inclusive com CDs
lançados, como Artur Gomes e
Rodrigo Garcia Lopes. Chacal
também é exemplo dessa antigüidade. Há 30 anos, começou recitando poesia, e sua obra herdou
traços dessa oralidade e compreensão fácil aos ouvidos. O que
ele exalta, entretanto, é "o contato
direto que essas coisas proporcionam, que permite a reprodução
dos silêncios, da respiração".
No título do evento reside mais
um de seus princípios. Assunção
toma a palavra para justificar a escolha, mas ressalva que, mesmo
entre os demais participantes, há
discordâncias. "Ultimamente, a
poesia anda muito comportada,
professoral. A idéia é trazer a ela
selvageria, posicionamento", diz.
Em um dos belos poemas que
entoa em seu CD, que, além de
música e poesia, alia lirismo e
brutalidade, a posição ganha ritmo e o otimismo de remeter a realidade ao passado: "Houve um
tempo torto/ um certo tempo
atrás/ letras sílabas palavras/ não
explodiam mais/ não explodiam
mais nada". Em outro, mais forte
e áspero, define um possível papel
do poeta já no título, "O Coisa
Ruim", e conclui com "eu sou o
que sangra/ um poeta nato".
Chacal é didático para dar palavras finais às idéias que eles tentam recuperar: "A sujeira inerente
a tudo o que vive, a tudo o que respira, foi deixada de lado. É hora de
recuperar a simbiose entre a poesia e a vida".
Outros Bárbaros
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP,
tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quando: de hoje a sáb., às 19h30
Quanto: entrada franca (retirar ingressos meia hora antes)
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