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TV por você
Televisão pega carona na internet 2.0 e elabora programas com conteúdo produzido pelos próprios espectadores
Em tempo de TVs de plasma, canais buscam produções gravadas por câmeras caseiras, celular e webcam para tentar atrair o público
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de telas de plasma e transmissão em alta definição, vejam só, a televisão corre atrás de programas com imagem e som de baixa qualidade.
Esse é o preço de tentar conquistar uma geração cada vez
mais ligada nos vídeos da internet e à comunicação por celular
do que nas caretices da programação da TV convencional.
De carona na web 2.0, como
ficou conhecida a internet com
conteúdo criado pelos internautas (a exemplo do site YouTube), a televisão ensaia o que
se poderia batizar de TV 2.0.
Internet e celular não são
mais apenas ferramentas de
apoio a formatos tradicionais,
como é o caso da votação do
"Big Brother". Vemos agora iniciativas nas quais a própria tecnologia dita o conceito dos programas, e telespectadores produzem -ou ao menos ajudam a
elaborar- o que vai ao ar na TV.
O Multishow estréia em setembro os programas "Retrato
Celular", só com cenas gravadas por celulares distribuídos a
jovens e "11 Câmeras", que foca relacionamentos
a partir de webcams.
Há duas semanas, o canal colocou no ar "Urbano", que
transmite um bate-papo realizado pela internet e também
gravado por pequenas câmeras
acopladas ao computador.
Além disso, está no ar há 15
dias o Fiz TV, canal da Abril que
passa o dia veiculando vídeos
produzidos pelo público e colocados no www.fiztv.com.br.
Novos canais a serem lançado pela Abril também contarão
com programas da TV 2.0, de
acordo com André Mantovani
(ex-MTV), responsável pelos
projetos televisivos do grupo.
"A grande novidade que essas iniciativas trazem à TV é a
riqueza do conteúdo. Não técnico, mas do ponto de vista dos
roteiros. Você assiste a um vídeo produzido pelo telespectador e não consegue prever o final. A TV convencional, assim
como o cinema de Hollywood,
é muito previsível", opina.
Ele cita como destaque "Não
Perca a Cabeça", de alunos da
Escola de Comunicações e Artes da USP. A atriz Bárbara Paz
(SBT) é uma garota que veste
uma camiseta escrita "gostosa"
e sofre insólita tentativa de estupro. Outro é "Conversas de
Elevador", série que já tem
mais de 20 episódios. O criador, Felipe Reis, aproveita as
madrugadas para filmar em
seu prédio. Seu personagem
passa por várias situações no
elevador, de cantadas frustradas a uma briga com um anão,
que o rapaz, distraído com o
iPod em alto volume, acaba espremendo contra a parede.
"É claro que nunca haverá
produção caseira como "Lost", e
por isso a TV convencional não
deve desaparecer. Mas hoje
não há por que não aproveitar o
conteúdo feito pelo público,
que surgiu com o barateamento dos equipamentos."
Para Christian Machado, gerente de produção do Multishow, a qualidade da imagem e
do som pode ficar em segundo
plano quando o foco é o conteúdo. "Os celulares com câmeras e as webcams permitem
uma intimidade com os personagens que jamais teríamos se
isso fosse captado por uma
equipe de televisão carregando
todos os equipamentos", diz.
Segundo ele, o objetivo da
opção do Multishow pela TV
2.0 é gerar identificação com o
telespectador, especialmente
porque o canal é voltado a jovens. "Apesar de a TV continuar presa à grade de programação, essa é uma maneira de
nos aproximarmos de uma geração que consome internet."
A grade horária de programação e o fato de um produtor
selecionar os vídeos do público
que vão ao ar tornam a TV 2.0
um "subproduto" da web 2.0,
na opinião de Renata Gomes,
professora do curso "Criação
de Imagem e Sons em Meios
Eletrônicos", da pós-graduação
do Senac de São Paulo.
"A TV convencional tende a
olhar para a produção da web
2.0. O sucesso estrondoso do
YouTube está modificando a
maneira como as pessoas vêem
TV. Essas iniciativas são interessantes, mas é bom lembrar
que, por ora, a TV ainda tem filtros", afirma Renata, lembrando, por exemplo, a inexistência
de ferramentas como o "video
on demand" (o espectador
acessa o programa por um menu quando quiser), que devem
chegar com a TV digital.
"Além disso, é importante
que os canais não façam esse tipo de programa apenas porque
é "modinha", mas que essa produção colaborativa realmente
traga discursos que hoje não
conseguem entrar na TV."
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