|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Última Moda
Gorbatchov é estrela da Louis Vuitton
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Divulgação
|
Gorbatchov passa perto do Muro de Berlim, na nova campanha publicitária da Louis Vuitton, fotografada por Annie Leibovitz |
Ex-líder da URSS faz publicidade da grife; para herdeiro do grupo LVMH, "fim do comunismo foi uma coisa boa"
A foto tem tudo para se tornar um clássico da publicidade
de moda: o ex-líder soviético
Mikhail Gorbatchov passa pelo
Muro de Berlim, numa limusine, tendo ao seu lado uma sacola Louis Vuitton.
A imagem, feita pela fotógrafa "hype" Annie Leibovitz, faz
parte da nova campanha publicitária da famosa marca de luxo
francesa. A atriz Catherine Deneuve e o casal de tenistas André Agassi e Steffi Graf são os
outros garotos-propaganda da
campanha, chamada de "Core
Values" (valores essenciais).
Gorbatchov, 76, foi o último
presidente da União Soviética.
Chegou ao poder em 1985 e iniciou no país a glasnost (abertura) e a perestroika (reestruturação), que acabaram levando à dissolução do regime comunista, em 1991. A derrubada do
Muro de Berlim, em 1989, é o
maior emblema do fim do comunismo e da Guerra Fria.
Na bela foto de Leibovitz, o
mais intrigante é a sua perspectiva: o Muro de Berlim ocupa
todo o fundo da imagem, sem
mostrar sinais de destruição,
como se continuasse inteiro,
para trás e para a frente.
"Queríamos uma campanha
que falasse de viagem, através
de pessoas com histórias de vida extraordinárias. É uma campanha que jamais poderia ser
feita com Paris Hilton", afirma
Antoine Arnault, 27, diretor de
comunicação da Louis Vuitton,
em entrevista à Folha.
Segundo Antoine, não foi fácil convencer Gorbatchov, que
acabou aceitando após decidir-se que parte do seu cachê iria
para a sua fundação Cruz Verde Internacional. Deneuve e o
casal Agassi-Graf também fizeram doações ao The Climate
Project, de Al Gore.
A nova campanha é focada
nos produtos para viagem, que
estão na origem da criação da
marca, em 1854. Hoje, a Louis
Vuitton também faz jóias, sapatos, acessórios e uma das
principais coleções de prêt-à-porter do mundo, sob os cuidados do estilista Marc Jacobs.
Antoine é um dos herdeiros
de Bernard Arnault, o megapoderoso empresário francês,
proprietário da LVMH (Louis
Vuitton Moët Hennessy), que
engloba as marcas Givenchy,
Fendi, Loewe, Donna Karan,
Kenzo, Emilio Pucci, Moët
Chandon, Veuve Clicquot,
além das lojas Sephora e Le
Bon Marché, entre outras empresas. "O fim do comunismo
foi uma boa coisa para a humanidade", diz Antoine a seguir.
FOLHA - Por que a Louis Vuitton escolheu Gorbatchov para a sua nova
campanha publicitária?
ANTOINE ARNAULT - Foi uma escolha natural. Queríamos uma
personalidade com substância,
alguém que viveu uma vida plena e mudou as coisas no mundo. É uma campanha que jamais poderia ser feita com Paris Hilton, por exemplo. Queríamos falar de viagens através
de pessoas que tiveram histórias de vida extraordinárias. Ficamos espantados quando Gorbatchov aceitou fazê-la com
tanta satisfação.
FOLHA - O fim do comunismo foi
uma boa coisa para a humanidade?
ARNAULT - É uma questão um
pouco política. Mas, sendo eu
um capitalista convicto, penso
que, sim, o fim do comunismo
foi uma boa coisa para a humanidade. Mas esse é um assunto
que merece ser discutido mais
longamente.
FOLHA - E qual a sua impressão sobre os primeiros passos do governo
de Nicolas Sarkozy [novo presidente
da França, de direita]?
ARNAULT - Sustentamos completamente suas iniciativas. No
momento ele está tomando
uma série de medidas difíceis,
mas temos confiança que conseguirá levá-las adiante, pois se
trata de um governo de abertura, que inclui até homens de esquerda. Ele está empenhado
em fazer coisas importantes
para a França.
FOLHA - Por um levantamento da
"Business Week", a Louis Vuitton é
a 17ª marca mais poderosa do mundo. A que o sr. atribui esse poder?
ARNAULT - A vários fatores. Para começar, é uma marca muito
antiga, que tem 153 anos. Sua
longevidade é uma garantia para nosso público. Além disso,
zelamos muito pela qualidade
do produto. Não fizemos nenhuma concessão a esse respeito. O "made in France" sempre
foi prioridade para nós, e o fato
de termos artesãos muito qualificados para produzir com extrema qualidade os produtos
certamente contribui para nossa imagem excepcional.
FOLHA - Como o sr. define o luxo?
ARNAULT - O luxo não é algo essencial, mas é indispensável.
FOLHA - O sr. vê contradição entre
o luxo, com seu fundamento aristocrático, e a democracia, que visa difundir os produtos para o maior número de pessoas?
ARNAULT - De jeito nenhum.
Todos aspiramos a algo melhor.
Alguns podem se oferecer isso
desde já; outros, não podendo
obtê-lo agora, vão sonhar com
isso e conseguir realizar seu desejo mais cedo ou mais tarde.
Penso que um grande número
de pessoas deve ter a chance de,
economizando, comprar uma
peça de luxo. O esforço da Louis
Vuitton é criar tanto produtos
para uma população muito rica
quanto produtos acessíveis para pessoas normais. É importante fazer produtos de luxo
que não sejam apenas para algumas poucas pessoas.
com VIVIAN WHITEMAN
Texto Anterior: Cinema: Festival do Minuto terá edições mensais Próximo Texto: "Falta foco à moda brasileira", diz Bianco Índice
|