São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Música - Crítica/MPB

Bebel Gilberto fixa estilo e dribla modismos em seu "Momento"

Em novo trabalho, cantora cria nuances à bem-sucedida fórmula da bossa eletrônica

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo CD de Bebel Gilberto, "Momento", chega apenas agora ao país, após ter sido lançado no exterior em abril. Depois de norte-americanos, ingleses e japoneses, chegou a vez de os brasileiros poderem comprar (os que ainda compram discos) o novo trabalho da cantora de sobrenome famoso.
Por isso, em certo sentido, o CD já chega soando um pouco velho. Alie-se a isso o fato de que Bebel, 41, dá prosseguimento à bossa eletrônica, gênero que ajudou a lançar as bases, em 2000 -e a impressão é de que ela não avançou.
Mas a impressão é apenas superficial. Bebel definiu um estilo e vai fazendo o melhor possível dentro dele. Vai, assim, driblando o ritmo das reviravoltas e modas musicais que acontecem pelo mundo.
Em "Momento", Bebel é co-autora de quase todas as músicas e está cada vez mais próxima da bossa. Claro, não deixou de lado aquela sonoridade que inspirou inúmeros clones e hoje é uma peste em som ambiente de bares metidos a descolados mundo afora. "Bring Back to Love", feita em parceria com os nova-iorquinos do Brazilian Girls, por exemplo, cumpre com mérito essa "cota". Como acontece na faixa seguinte, "Close to You", Bebel une universos musicais e canta em duas línguas, fazendo a conexão Brasil-Primeiro Mundo.
Mas aqui e ali vão surgindo variantes desse espírito estrangeiro deslocado -Bebel, vale lembrar, vive há anos em Nova York. Na excelente "Os Novos Yorkinos", a melhor faixa do disco, Bebel faz referência aos Novos Baianos, grupo que, nos anos 70, criou a ponte possível entre o regional brasileiro e o rock. A faixa, suave e animada, tem o clima de bossa, ao mesmo tempo em que o refrão remete ao Carnaval de Salvador.
Em "Caçada", Bebel pega uma canção menos conhecida de Chico Buarque, trilha de "Quando o Carnaval Chegar" (1972, Cacá Diegues), e se joga no baião, não sem antes deixar sua marca "cool", tranquila. Já a versão para "Night and Day" (de Cole Porter) é pura bossa.
E "Tranquilo" (de Kassin), onde recebe a descoladíssima Orquestra Imperial, Bebel dá continuidade àquilo que explicita na citada "Os Novos Yorkinos". Ela se integra bem em turmas, seja no norte ou sul do planeta. Bebel dribla modismos e nacionalidades.


MOMENTO
Artista:
Bebel Gilberto
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 26, em média
Avaliação: bom


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