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Filme
"Soberba" capta tirania da rotina no cinema
CRÍTICO DA FOLHA
Por mais que o estúdio tenha
mexido em "Soberba" (Turner Classic Movies, 18h25), o
segundo filme de Orson Welles
permanece um monumento, e
poucas vezes a decadência de
uma classe e a ascensão de outra terão sido tão bem representadas quanto aqui.
De um lado, existem os aristocráticos Amberson, cujo rebento, George (Tim Holt), não
só não permite que sua irmã
Isabel case com o excêntrico
Eugene (Joseph Cotten), a
quem vê como um inferior, como leva sua cegueira a atravessar o filme inteiro.
Visto assim, parece história
de novela de TV, e poderia bem
ser, não fosse o fato de Eugene
representar tão bem o espírito
americano, ou ao menos essa
parte cheia de iniciativa, inventividade e, sobretudo, vocação
para o sonho.
Essa oposição de que Welles
trata poderia ser vista de outra
maneira, como a tirania da rotina contra a invenção. Tirania
que se manifestava na indústria do cinema de então e que
se manifesta hoje com ainda
mais força.
Welles estava do lado do sonho, claro. Não por acaso,
quando a RKO foi vendida (ele
estava no Brasil), perdeu por
um artifício jurídico o direito a
controlar seus filmes.
Por outro lado, existe no filme essa história, recorrente
em Orson Welles, de encontros
que não se concretizam, de almas que a vida, por alguma razão, infelicita ao afastar. "Soberba" é, para muitos, a obra-prima de Welles. Não é pouco.
(INÁCIO ARAUJO)
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