São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2010

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OPINIÃO SUSPENSE

Subversões deram longevidade a "Psicose"

Mostra na Cinemateca celebra os 50 anos do longa de Alfred Hitchcock que quebrou as convenções do gênero

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O ano de 1960 foi, para o cinema, muito especial. Foi quando Alfred Hitchcock deixou as plateias urrando de pavor com as perversidades de seu "Psicose", cujo aniversário de 50 anos é o mote de uma retrospectiva que a Cinemateca abre hoje.
Nesse período, Hitchcock estava em baixa. Seus dois filmes anteriores, "Um Corpo que Cai" e "O Homem Errado", haviam rendido muito menos do que o esperado. Ao mesmo tempo, ele via pequenos "thrillers" de carregação encherem os cinemas.
Não teve dúvidas. Projetou um filme de produção módica, em branco e preto, e sorrateiramente urdiu sua vingança: "Psicose" seria um filme em que a estrela, Janet Leigh, morre com meia hora de filme. Coisa inédita.
Em princípio, as estrelas não morrem. Só quando são más. Bandidos, por exemplo. E, mesmo assim, isso acontece lá no fim da história.
Essa pequena subversão das convenções artísticas foi seguida por outras tantas, como o fato de a morte de Janet Leigh chocar pela violência. No mais, a parte publicitária foi cuidada com tanto esmero quanto o próprio filme, feito em grande sigilo.
Mesmo após a estreia, pedia-se aos espectadores que não contassem o que haviam visto. Uma preocupação talvez ociosa: até quando a surpresa desaparece, "Psicose" continua assustador.
O filme representa uma ruptura na carreira de Hitchcock. Extremamente cuidadoso ao construir suas tramas, desta vez ele conta duas histórias independentes.
Na primeira, trata de uma secretária que rouba o patrão para se casar. Na segunda, investigam-se o desaparecimento e a morte da garota.
Tudo colabora para criar uma atmosfera à altura do lugar: o seu inseguro proprietário (Anthony Perkins), a arquitetura sombria da casa, o ar de abandono dos quartos.
Diz Hitchcock que o filme não tem nada de mais: simplesmente o espectador pensa que, se a estrela morreu em meia hora de filme, qualquer coisa pode acontecer.
Com efeito, o público entendeu assim e pagou para morrer de medo num "Psicose" em que o suspense e o terror se davam as mãos e promoviam uma verdadeira reinvenção do cinema.

AUDÁCIA NA ESTREIA
No mesmo 1960, Jean-Luc Godard deixou as plateias de boca aberta com as audácias de "Acossado", seu filme de estreia. Fez dele um campo de experiências em que desafiava e quebrava todas as regras, mudando o cinema.
Há quem ache até hoje que o filme foi só um acaso. O que ninguém deixou de perceber foi que, naquele momento, a arte do cinema se deslocava com violência, rejuvenescia.
Hitchcock, um cineasta que vinha do mudo e homem de hábitos rotineiros, entrou no reino da modernidade, provocando o espectador, interpelando-o talvez com mais ênfase do que qualquer jovem cineasta até então.
"Psicose" e "Acossado": não existe quem, na seara do cinema, não tenha sido atingido pelos golpes desses cinquentões de gênio.

50 ANOS DE "PSICOSE"
QUANDO de ter. a qui., com sessões às 19h e às 21h
ONDE Sala Cinemateca (lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, Vila Clemen-tino, tel. 0/xx/11/3512-6111)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO ver site
www.cinemateca.com.br


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