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OPINIÃO SUSPENSE
Subversões deram longevidade a "Psicose"
Mostra na Cinemateca celebra os 50 anos do longa de Alfred Hitchcock que quebrou as convenções do gênero
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O ano de 1960 foi, para o
cinema, muito especial. Foi
quando Alfred Hitchcock
deixou as plateias urrando
de pavor com as perversidades de seu "Psicose", cujo
aniversário de 50 anos é o
mote de uma retrospectiva
que a Cinemateca abre hoje.
Nesse período, Hitchcock
estava em baixa. Seus dois
filmes anteriores, "Um Corpo
que Cai" e "O Homem Errado", haviam rendido muito
menos do que o esperado. Ao
mesmo tempo, ele via pequenos "thrillers" de carregação
encherem os cinemas.
Não teve dúvidas. Projetou
um filme de produção módica, em branco e preto, e sorrateiramente urdiu sua vingança: "Psicose" seria um filme em que a estrela, Janet
Leigh, morre com meia hora
de filme. Coisa inédita.
Em princípio, as estrelas
não morrem. Só quando são
más. Bandidos, por exemplo.
E, mesmo assim, isso acontece lá no fim da história.
Essa pequena subversão
das convenções artísticas foi
seguida por outras tantas,
como o fato de a morte de Janet Leigh chocar pela violência. No mais, a parte publicitária foi cuidada com tanto
esmero quanto o próprio filme, feito em grande sigilo.
Mesmo após a estreia, pedia-se aos espectadores que
não contassem o que haviam
visto. Uma preocupação talvez ociosa: até quando a surpresa desaparece, "Psicose"
continua assustador.
O filme representa uma
ruptura na carreira de Hitchcock. Extremamente cuidadoso ao construir suas tramas, desta vez ele conta duas
histórias independentes.
Na primeira, trata de uma
secretária que rouba o patrão
para se casar. Na segunda,
investigam-se o desaparecimento e a morte da garota.
Tudo colabora para criar
uma atmosfera à altura do lugar: o seu inseguro proprietário (Anthony Perkins), a arquitetura sombria da casa, o
ar de abandono dos quartos.
Diz Hitchcock que o filme
não tem nada de mais: simplesmente o espectador pensa que, se a estrela morreu
em meia hora de filme, qualquer coisa pode acontecer.
Com efeito, o público entendeu assim e pagou para
morrer de medo num "Psicose" em que o suspense e o terror se davam as mãos e promoviam uma verdadeira
reinvenção do cinema.
AUDÁCIA NA ESTREIA
No mesmo 1960, Jean-Luc
Godard deixou as plateias de
boca aberta com as audácias
de "Acossado", seu filme de
estreia. Fez dele um campo
de experiências em que desafiava e quebrava todas as regras, mudando o cinema.
Há quem ache até hoje que
o filme foi só um acaso. O que
ninguém deixou de perceber
foi que, naquele momento, a
arte do cinema se deslocava
com violência, rejuvenescia.
Hitchcock, um cineasta
que vinha do mudo e homem
de hábitos rotineiros, entrou
no reino da modernidade,
provocando o espectador, interpelando-o talvez com
mais ênfase do que qualquer
jovem cineasta até então.
"Psicose" e "Acossado":
não existe quem, na seara do
cinema, não tenha sido atingido pelos golpes desses cinquentões de gênio.
50 ANOS DE "PSICOSE"
QUANDO de ter. a qui., com sessões
às 19h e às 21h
ONDE Sala Cinemateca (lgo. Sen.
Raul Cardoso, 207, Vila Clemen-tino, tel. 0/xx/11/3512-6111)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO ver site
www.cinemateca.com.br
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