São Paulo, segunda, 17 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÍDEO

Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Francis Ford Coppola, Oliver Stone: a temporada dos feriados do fim de 1997 marcou a volta dos maiores cineastas americanos, depois de um período de ausência ou uma fase de projetos menores; dessa safra vêm "O Homem Que Fazia Chover", de Coppola, e "Reviravolta", de Oliver Stone


Os grandes retornam

MARIANE MORISAWA
da Redação


O HOMEM QUE FAZIA CHOVER
Francis Ford Coppola já dirigiu alguns dos maiores clássicos do cinema norte-americano, como "A Conversação", "Apocalipse Now" e a trilogia "O Poderoso Chefão". Já faz algum tempo que anda meio apagado, massacrado por críticas desfavoráveis e fitas menores como a comédia "Jack", de 1996.
O diretor agora escolheu um projeto em princípio sem cara e sem riscos, mas sério: adaptar mais um dos livros de advogado do best seller John Grisham, já adaptado para o cinema em filmes eficientes e sem sal como "O Cliente" e "Tempo de Matar".
Em "O Homem Que Fazia Chover", o personagem principal é, mais uma vez, um advogado jovem e ainda cheio de escrúpulos, Rudy Baylor (Matt Damon).
Sem dinheiro, despejado, ele, relutantemente, aceita trabalhar no escritório do competente, mas corrupto Bruiser Stone (Mickey Rourke, com os mesmos cabelos ensebados, só que agora na versão grisalha). Ganha como companheiro Deck Shifflet (Danny DeVito), que já bombou no exame da ordem seis vezes.
De cara, dois casos: fazer um testamento de uma senhora que quer alijar seus filhos do testamento e processar uma companhia de seguro de saúde que negou o pagamento do tratamento de um jovem leucêmico. Nada palpitante.
Porém a seguradora é defendida por um dos mais conceituados advogados do Estado, Leo F. Drummond (Jon Voight). Rudy, é claro, descobrirá que sorte e trabalho fazem a diferença.
Enquanto lida com os dois casos, ele tenta ajudar Kelly Riker (Claire Danes), jovem vítima de um marido violento, e termina por se apaixonar por ela.
Como ele próprio diz, seu problema é se envolver com os clientes -além do amor pela bonitinha Kelly, ele acaba indo morar nos fundos da casa da velhinha do testamento e torna-se amigo de Donny Ray, o rapaz a quem foi negado o transplante de medula.
Mas, como ele também acredita que há advogados e advogados, ele prefere manter sua postura.
Coppola consegue sair da pasmaceira dos filmes de tribunal acentuando os traços de humor da história e realiza uma obra que se assiste sem esforço -o mínimo que se esperava dele.

Filme: O Homem Que Fazia Chover Produção: EUA, 1997, 135 min Direção: Francis Ford Coppola Com: Matt Damon, Danny DeVito, Jon Voight, Claire Danes, Mickey Rourke Lançamento: CIC (011/816-0852)

REVIRAVOLTA
Oliver Stone gosta da polêmica. Em seus filmes-tese, tenta colocar o público contra ou a favor de determinados personagens e convencê-lo de que tudo no mundo é parte de uma conspiração.
Por isso, escolhe em geral temas políticos, como em "Platoon", "Nascido em 4 de Julho", "JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar" e "Nixon", seu filme de 1995.
Ou abusa da estética, como em "Assassinos por Natureza".
Em "Reviravolta" ("U-Turn"), Stone abandona a política -mas não o videoclipe- para contar uma história engraçada sobre ambição e falta de sorte.
Bobby Cooper (Sean Penn) viaja pelo deserto em direção a Las Vegas para saldar suas dívidas.
No caminho, o carro quebra. Para seu azar, como ele em breve irá descobrir, perto da cidadezinha de Superior, no Arizona.
Bobby logo travará contato com os tipos para lá de estranhos do local. O primeiro é o mecânico burro (Billy Bob Thornton), que só faz atrasar a partida de Bobby.
Em seguida, ele conhece a gostosona Grace (Jennifer Lopez). Crente de que estava se dando bem, Bobby vai para a casa dela ajudá-la com as cortinas novas. É quando ele descobre que Grace tem um marido brutamontes, Jack McKenna (Nick Nolte).
Depois, ele é assediado por Jenny (Claire Danes), uma adolescente desmiolada que dá em cima de todo homem, e Toby (Joaquin Phoenix), o namorado ciumento e encrenqueiro da garota.
Mas é com os McKenna que Bobby terá os maiores problemas. Jack oferece dinheiro para que o forasteiro dê um fim em Grace -ele já não aguenta mais seus joguinhos de sedução. Em contrapartida, Grace pede a Bobby que mate seu marido -assim, eles pegariam o dinheiro de Jack e partiriam para sempre de Superior.
A história é divertida até certo ponto. Quando Oliver Stone envereda pelos dramas pessoais e familiares de Grace e as reviravoltas começam a se acumular, o filme passa a girar em falso.
Abusa de recursos visuais, empilhando cenas em preto-e-branco, cortes abruptos, imagens distorcidas e closes de bocas e olhos, com resultado vazio.
No fim, ele era mais divertido quando propunha suas teses mirabolantes -pelo menos, havia o que comentar depois do filme.
(MaM)
Filme: Reviravolta Produção: EUA, 1997, 125 min Direção: Oliver Stone Com: Sean Penn, Jennifer Lopez, Nick Nolte, Billy Bob Thornton, Jon Voight Lançamento: Columbia (011/5503-9899/9898)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.