São Paulo, Terça-feira, 17 de Agosto de 1999
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PERSONALIDADE
Sambista que fundou a Mangueira, principal parceiro de Cartola, compôs mais de 500 canções
Carlos Cachaça morre aos 97 no Rio

J. A. Fonseca/Folha Imagem
O sambista Carlos Cachaça, que morreu ontem, em registro de fevereiro de 1987


LETÍCIA KFURI
free-lance para a Folha

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O samba perdeu ontem o último de seus patriarcas. Morreu aos 97 anos, na casa da filha Inês de Castro, o compositor Carlos Cachaça, fundador da Estação Primeira de Mangueira, mais famosa escola de samba do país.
O velório estava previsto para acontecer na tarde de ontem na quadra da Mangueira. O sepultamento, a partir das 17h no Cemitério do Caju (zona norte do Rio).
Nascido Carlos Moreira de Castro, o sambista carioca não morava mais no morro da Mangueira (zona norte do Rio), seu reduto durante décadas.
Por causa da velhice, há dois meses Carlos Cachaça se mudou para o subúrbio de Engenho da Rainha, onde vivia com a filha, os netos Carlos José e Marília e o bisneto Anderson, 8. O sambista deixou dois filhos, seis netos e três bisnetos.
Foi uma morte serena, de acordo com o relato de seus parentes. Carlos Cachaça morreu enquanto dormia.
No dia 9 de junho, havia sido diagnosticado um princípio de pneumonia. Desde então, Carlos Cachaça começou a recusar comida, passando a maior parte do tempo deitado. Inês disse que o pai não mostrava mais disposição para se alimentar.
Até as 11h30, o corpo do sambista continuava na casa da filha. O médico da família, Eduardo Moscovis Rodrigues, ainda não havia ido até a casa para atestar a causa do óbito.
A história da Mangueira está estreitamente vinculada à trajetória de Carlos Cachaça no samba e na música popular brasileira.
Autor de sambas-enredos no final dos anos 20 e nas décadas seguintes, Carlos Cachaça foi o principal parceiro de Cartola, outro mestre do samba e da Mangueira.
Em abril, Carlos Cachaça esteve pela última vez na sede da escola, no morro da Mangueira.
Ele visitou o centro cultural que funciona na quadra, para colocar as mãos no Quadro da Fama, espaço reservado a personalidades da história do samba e da Mangueira.
No último Carnaval, membros da diretoria desfilaram com camisas que traziam o retrato de Carlos Cachaça, uma homenagem ao mais importante mangueirense vivo à época.
Autor de mais de 500 composições, Carlos Cachaça deixou pelo menos 15 músicas inéditas, que a família estuda se entregará para algum intérprete gravá-las.
Sua composição preferida era "Não Quero Mais Amar a Ninguém", feita em parceria com Cartola na década de 30. Além de Cartola, Carlos Cachaça teve como parceiros o compositor Hermínio Bello de Carvalho ("Alvorada no Morro", também com a participação de Cartola), e, mais recentemente, Délcio Carvalho.


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