São Paulo, Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999
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Roteiro inteligente sustenta duas boas horas

da Reportagem Local

"A Filha do General" não é daqueles filmes que contribuem para mudar a vida de uma pessoa. Mas John Travolta está calejado em Hollywood, depois de tantos altos e baixos na gangorra da fama, e não tem a pretensão de fazer filmes tão profundos. Aqui, ele e o diretor Simon West querem apenas oferecer uma sessão de entretenimento. Missão cumprida.
West tem apenas 37 anos, mas parece um diretor vindo dos anos 40 e 50. "A Filha do General", assim como seu filme de estréia, "Con Air" (com Nicolas Cage e John Malkovich), respeita a narrativa clássica. É um filme redondo, sem elipses na trama. Cria o clímax e oferece ao espectador o esperado conflito entre o investigador e o culpado.
É bom não confundir ser clássico com ser antiquado. West tem uma câmera refinada, que busca ângulos inquietantes. O diretor sabe enquadrar e, principalmente, sabe editar. É por esse talento que as quase duas horas de projeção são muito agradáveis, apesar de uma história que muitas vezes revira o estômago.
Um prestigiado general que pretende se aposentar e entrar para a política recebe um duro golpe: sua filha, também uma oficial, é brutalmente estuprada e morta dentro do quartel. Travolta interpreta Paul Brenner, investigador das Forças Armadas encarregado de descobrir os culpados.
Ele recebe, contrariado, a ajuda de outra investigadora, Sara (a sempre bela Madeleine Stowe, de "O Último dos Moicanos"). Além de partilharem a profissão, eles já dividiram também a cama, num namoro tumultuado terminado alguns anos antes.
Lidar com a ex-namorada é o menor problema de Brenner. Sua investigação vai esbarrando num tremendo esforço dos militares para atrapalhar seus passos.
O casal de detetives descobre o comportamento ninfomaníaco da garota ao perceber que a coisa mais difícil na base é encontrar alguém que não tenha transado com ela. E a resposta para tanto furor uterino pode estar num obscuro incidente envolvendo a garota ainda em seus tempos na academia militar.
A novela de Nelson DeMille que originou o roteiro tem passagens ainda bem mais pesadas do que as incluídas no filme, mas a versão cinematográfica preserva o intrincado jogo de detetive que deu notoriedade ao livro.
Há duas partes distintas na trama. Primeiro, a questão é descobrir o que aconteceu. Depois, a discussão é tentar entender porque tudo levou ao desfecho violento. O filme consegue um bom equilíbrio entre o policial de ação e o thriller psicológico.
O mérito de segurar a atenção do espectador até a última cena já é coisa pouco desprezível no atual estágio do cinema americano. Apesar da falta de interpretação mais densa do apenas competente par central, o roteiro inteligente sustenta o prazer da platéia.
(THALES DE MENEZES)


Avaliação:    

Título: A Filha do General
Diretor: Simon West
Produção: EUA, 1999
Com: John Travolta, Madeleine Stowe, Timothy Hutton, James Cromwell
Quando: a partir de hoje, nos cines Studio Alvorada 1, Morumbi 1 e circuito


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