São Paulo, Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999
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O inconsciente revolucionário dos surrealistas está no MIS

free-lance para a Folha

Poderia ser um descomprometido inventário de sonhos de uma geração inquieta, mas a etapa que marcou o ingresso dos surrealistas no cinema é chamado de "avant garde", vanguarda em francês, porque revelou uma necessidade inédita de ruptura da dicotomia entre a vida prosaica dos homens e a criação artística acadêmica.
O Museu da Imagem e do Som (MIS) mostra neste fim-de-semana alguns dos primeiros exemplos no cinema dessa nova forma de expressão, que se caracterizou pela sua desobrigação com a realidade objetiva, pela não-tentativa de narrar a vida como se esta fossem fatos, causas e consequências, pela invocação do inconsciente para exprimir identidades.
Na prática, essas premissas motivaram a ampliação do repertório de seus artistas, que passaram a procurar sentidos para suas ações na psicanálise de Freud, na arte africana, na magia, no teatro, no marxismo e, claro, no cinema. Tudo isso nos anos 20.
Uma rápida olhada na lista dos participantes do movimento serve para entender sua importância e desmistifica o mito de que se tratava de um círculo restrito.
O pintor Fernand Léger, tratado hoje como cubista, fincou sua importância no movimento ao criar o curta-metragem "Ballet Mécanique" (1924), que será exibido às 18h de sábado. O poeta e cineasta Jean Cocteau é outro surrealista, embora o grupo não o levasse muito em consideração. Pode-se localizar em Cocteau, principalmente com "Orfeu" (1949), uma das influências da nouvelle vague. Já Luís Buñuel, de "Um Cão Andaluz" e "L'Âge D'Or", é reconhecido hoje como o principal representante do movimento no cinema. "Um Cão Andaluz", que realizou com Salvador Dalí, arrepia até hoje com a famosa cena do olho sendo cortado com uma navalha, provavelmente uma das imagens mais poderosas do cinema. Com ela, decretou o fim de um modo de olhar e lançou, na sala escura do cinema, uma nova luz provinda do inconsciente.
(CRISTIAN AVELLO CANCINO)

O quê: Surrealismo e Dadaísmo no Cinema
Quando: hoje, às 16h, "Um Cão Andaluz"
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel.: 852-9197)
Quanto: entrada franca


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