São Paulo, Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999
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MÚSICA

Cantora mineira se apresenta com Jane Duboc em shows que marcam o lançamento do CD "Clássicas"

Zezé Gonzaga leva era do rádio ao Sesc


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Mais um resgate se arma. Três shows no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, reapresentam aos muitos que não a conhecem a cantora mineira Zezé Gonzaga, 73.
Os shows marcam o lançamento de "Clássicas", primeiro disco em 20 anos de Zezé -afora dois das Cantoras do Rádio, em que havia as também semi-esquecidas Nora Ney, Carmélia Alves, Ellen de Lima e Violeta Cavalcanti.
Mas não é, ainda, sua volta solo -ela divide "Clássicas", projeto conduzido pelo produtor Hermínio Bello de Carvalho, com a cantora paraense Jane Duboc, 48.
Jane explica o projeto: "Nasceu quando eu viajava com Hermínio de catamarã, no rio Amazonas, e ficamos conversando sobre o repertório pré-bossa nova, sobre como esse tipo de música foi esquecido. Como ele e eu éramos apaixonados pela Zezé...".
Zezé Gonzaga tem estrada para fazer frente a tal repertório: pertenceu, por 20 anos, à Rádio Nacional, onde se fez intérprete constante do gênero que denomina "romântico".
Ela conta sobre suas origens musicais: "Era neta de maestro e filha de flautista, mas não me passou pela idéia virar profissional. Quando, já no Rio (para onde foi aos 18 anos), os vizinhos começaram a insistir para que eu cantasse no rádio, acabei indo ao programa de Ary Barroso, em 1942. Ganhamos nota máxima, eu cantando e minha mãe na flauta".
Acabou chamada à Rádio Nacional, em 1949, por Paulo Tapajós. "Foi onde conheci a maravilha de homem, arranjador e pianista que era Radamés Gnattali. Ele disse que eu era a mais afinada de todas. Aceito ser uma das afinadas, mas não a mais de todas. Mas, como era a opinião dele, a gente respeita", brinca.
Zezé tenta explicar por que não virou estrela tão conhecida quanto as que admirava e das quais "roubava" repertório -Isaurinha Garcia, Aracy de Almeida, Odete Amaral, Dircinha Batista. "Fui estrela, mas só não fui mais porque não tive um empresário que me promovesse. Foi por ignorância, falta de orientação."
Continua: "Meu desejo primeiro era ser cantora lírica, era soprano ligeiro. Mas não dava para ganhar dinheiro assim. Baixei os tons e passei para a música popular. Aí, sim, sobrevivo até hoje de música. E sou feliz e agradecida a Deus, pois minha voz não acompanhou a ordem cronológica das coisas, ficou lá atrás".
Diz-se, fundamentalmente, cantora romântica. "Não sou sambista. Sempre gostei do romantismo, por temperamento. A primeira música que cantei em público, aos 12 anos, foi uma valsa do repertório de Orlando Silva."
Afinidade extra ela encontrou em Valzinho, parceiro histórico de Orestes Barbosa. "Valzinho, um precursor da bossa nova, acreditou em mim e passei a ter um repertório próprio. Em 1979, gravei um disco só com músicas dele, meu último LP antes deste."
Zezé afirma não haver sofrido com o fim da era do rádio e os adventos da bossa nova e do tropicalismo -em 1968, em plena explosão do movimento, ela lançou "Canção do Amor Distante".
"Não senti porque fui convidada a abrir uma agência de jingles. Lá fiquei até compositora, olha que bonitinho (canta o jingle do Projeto Minerva). Cantava um jingle de lâmpadas com Lúcio Alves, veja só. Isso me absorveu muito. Pode até ter atrapalhado minha carreira, mas não sei."
Explica que a união de duas gerações, com Jane Duboc, não é forçada. "Adoro ela, é uma cantora privilegiada. Quando Hermínio propôs, respondi: "Só se for agora!". Cantamos juntas sem parecer dupla sertaneja."
Jane fala das gravações: "É um sonho. Quando ensaiamos, um chora para cá, outro chora para lá, os músicos ficam felizes. Nos shows vamos ter que abstrair para conseguir cantar, porque tem mexido muito com o emocional".

Show: Zezé Gonzaga e Jane Duboc
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5080-3147)
Quando: hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 19h
Quanto: R$ 10


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