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MÚSICA
Cantora mineira se apresenta com Jane Duboc em shows que marcam o lançamento do CD "Clássicas"
Zezé Gonzaga leva era do rádio ao Sesc
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Mais um resgate se arma. Três
shows no Sesc Vila Mariana, em
São Paulo, reapresentam aos muitos que não a conhecem a cantora
mineira Zezé Gonzaga, 73.
Os shows marcam o lançamento de "Clássicas", primeiro disco
em 20 anos de Zezé -afora dois
das Cantoras do Rádio, em que
havia as também semi-esquecidas
Nora Ney, Carmélia Alves, Ellen
de Lima e Violeta Cavalcanti.
Mas não é, ainda, sua volta solo
-ela divide "Clássicas", projeto
conduzido pelo produtor Hermínio Bello de Carvalho, com a cantora paraense Jane Duboc, 48.
Jane explica o projeto: "Nasceu
quando eu viajava com Hermínio
de catamarã, no rio Amazonas, e
ficamos conversando sobre o repertório pré-bossa nova, sobre
como esse tipo de música foi esquecido. Como ele e eu éramos
apaixonados pela Zezé...".
Zezé Gonzaga tem estrada para
fazer frente a tal repertório: pertenceu, por 20 anos, à Rádio Nacional, onde se fez intérprete
constante do gênero que denomina "romântico".
Ela conta sobre suas origens
musicais: "Era neta de maestro e
filha de flautista, mas não me passou pela idéia virar profissional.
Quando, já no Rio (para onde foi
aos 18 anos), os vizinhos começaram a insistir para que eu cantasse
no rádio, acabei indo ao programa de Ary Barroso, em 1942. Ganhamos nota máxima, eu cantando e minha mãe na flauta".
Acabou chamada à Rádio Nacional, em 1949, por Paulo Tapajós. "Foi onde conheci a maravilha de homem, arranjador e pianista que era Radamés Gnattali.
Ele disse que eu era a mais afinada
de todas. Aceito ser uma das afinadas, mas não a mais de todas.
Mas, como era a opinião dele, a
gente respeita", brinca.
Zezé tenta explicar por que não
virou estrela tão conhecida quanto as que admirava e das quais
"roubava" repertório -Isaurinha Garcia, Aracy de Almeida,
Odete Amaral, Dircinha Batista.
"Fui estrela, mas só não fui mais
porque não tive um empresário
que me promovesse. Foi por ignorância, falta de orientação."
Continua: "Meu desejo primeiro era ser cantora lírica, era soprano ligeiro. Mas não dava para ganhar dinheiro assim. Baixei os
tons e passei para a música popular. Aí, sim, sobrevivo até hoje de
música. E sou feliz e agradecida a
Deus, pois minha voz não acompanhou a ordem cronológica das
coisas, ficou lá atrás".
Diz-se, fundamentalmente,
cantora romântica. "Não sou
sambista. Sempre gostei do romantismo, por temperamento. A
primeira música que cantei em
público, aos 12 anos, foi uma valsa
do repertório de Orlando Silva."
Afinidade extra ela encontrou
em Valzinho, parceiro histórico
de Orestes Barbosa. "Valzinho,
um precursor da bossa nova,
acreditou em mim e passei a ter
um repertório próprio. Em 1979,
gravei um disco só com músicas
dele, meu último LP antes deste."
Zezé afirma não haver sofrido
com o fim da era do rádio e os adventos da bossa nova e do tropicalismo -em 1968, em plena explosão do movimento, ela lançou
"Canção do Amor Distante".
"Não senti porque fui convidada a abrir uma agência de jingles.
Lá fiquei até compositora, olha
que bonitinho (canta o jingle do
Projeto Minerva). Cantava um
jingle de lâmpadas com Lúcio Alves, veja só. Isso me absorveu
muito. Pode até ter atrapalhado
minha carreira, mas não sei."
Explica que a união de duas gerações, com Jane Duboc, não é
forçada. "Adoro ela, é uma cantora privilegiada. Quando Hermínio propôs, respondi: "Só se for
agora!". Cantamos juntas sem parecer dupla sertaneja."
Jane fala das gravações: "É um
sonho. Quando ensaiamos, um
chora para cá, outro chora para lá,
os músicos ficam felizes. Nos
shows vamos ter que abstrair para
conseguir cantar, porque tem mexido muito com o emocional".
Show: Zezé Gonzaga e Jane Duboc
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5080-3147)
Quando: hoje e amanhã, às 21h;
domingo, às 19h
Quanto: R$ 10
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