INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A voz corrente diz que Vittorio de Sica decaiu depois de seus filmes dos anos 40. Sem a consistência de um Rossellini, seu grande apelo era o trabalho com o melodrama social. Era um especialista em bons sentimentos e na manipulação dos sentimentos.
Vistas assim as coisas, a evolução para comédias como "Ontem, Hoje e Amanhã" (Eurochannel, 23h30) talvez tenha sido um caminho viável.
Fiquemos com o mais memorável dos três episódios, aquele sobre a napolitana que, para não ser presa, engravida continuamente. Lá estão as questões sociais caras a De Sica.
Mas há também um humor que os filmes do pós-guerra não tinham. Há Sophia Loren, como garantia de glamour. E há, no fim, um bem simpático retrato da Itália e dos italianos.

CINEMA

Programa mostra pouco de "Irmãos de Fé"

DA REDAÇÃO

Uma produção para o grande público, hoje em dia, implica em uma série de produtos paralelos, seja para os extras do DVD, seja para o marketing da obra. Um desses produtos é o making of, a história da produção do filme.
"Irmãos de Fé", nova obra do padre Marcelo Rossi, dirigida por Moacyr Góes, tem seu making of exibido hoje, às 20h05, pelo Canal Brasil.
Nele, é possível ouvir a maioria dos atores que participam do filme, cada um dando uma explicação mais ou menos detalhada sobre seu personagem.
Também se ouve a opinião do diretor, para quem a história é importante pela idéia de que "a tolerância é algo fundamental". De fato, a história que o filme conta, da conversão do judeu Saulo, perseguidor de cristãos, em Paulo, o disseminador da palavra de Cristo, é regida pela tolerância que Góes destaca.
Mas muito mais do que isso, o filme "tem um lado de evangelização muito bonito", como aponta o ator Fábio Sabag. Eis aí a essência da obra do padre: seu trabalho é o de conquistar novos fiéis.
O programa mostra diversos momentos da filmagem, mas poucas cenas de fato. O foco está nos depoimentos. Com isso, a compreensão da história fica prejudicada. Entende-se que o filme fala de um episódio bíblico, mas fica pouco claro como a história urbana paralela que há na trama -e onde o padre Marcelo se insere- se liga ao resto do filme.
O making of perde também a oportunidade de inserir o filme no contexto atual da produção de cinema nacional, além de concentrar toda a apresentação da parte técnica do filme no final do programa, deixando-a prejudicada.
No fim, o programa traz o depoimento do produtor Diler Trindade, falando sobre a experiência de fazer mais um filme com o padre: "Ele é indispensável, faz a ligação com o imenso público católico que há no Brasil. Gostaríamos que o projeto fosse estendido".