São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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MÚSICA

Guitarrista e "dono dos Ramones", ele estava com câncer de próstata há cinco anos; filme retrata trajetória da banda

Johnny Ramone, 55, morre em Los Angeles

Divulgação
A partir da esq., Johnny, Joey, Tommy e Dee Dee Ramone


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Após lutar cinco anos contra um câncer de próstata, Johnny Ramone, guitarrista dos lendários Ramones, morreu anteontem em Los Angeles, aos 55 anos, em decorrência do desenvolvimento da doença. Nascido John Cummings, ele estava em casa, dormindo. Ao seu lado, estavam a mulher, Linda, e amigos como Eddie Vedder (Pearl Jam), John Frusciante (Red Hot Chili Peppers) e o cantor Rob Zombie.
Johnny era um dos membros fundadores do Ramones. Além dele e Tommy (baterista), integravam a banda -que praticamente originou o punk e que foi criada em 1974, em Nova York- Joey (o vocalista, que morreu em 2001, aos 49 anos, após contrair câncer linfático) e o baixista Dee Dee (que foi vítima de uma overdose, aos 50 anos, em 2002). O último show aconteceu em 1996.
Republicano e conservador, Johnny era uma espécie de antítese do ideário punk dominante. Considerava Ronald Reagan o "melhor presidente do EUA" e foi uma das poucas vozes do rock a se posicionar favoravelmente à Guerra do Iraque. "Não sou a favor de guerras, não gosto de ver gente inocente morrendo. Espero que os estragos não sejam muitos e que isso dure pouco tempo", disse à Folha, no ano passado.
Toda a importância dos Ramones para o rock and roll volta a ser lembrada nesses 30 anos de criação do grupo. No último final de semana, aconteceu em Los Angeles um show beneficente em que participaram, além de Vedder, Frusciante e Zombie, Henry Rollins e Brett Gurewitz (Bad Religion). Uma outra homenagem, em Nova York, reunirá, entre outros, Strokes e Blondie, em 8/10.
Mas uma ótima amostra do que representaram os Ramones e de como era a vida dos integrantes da banda poderá ser vista no documentário "End of the Century: The Story of the Ramones", que será exibido pela primeira vez no Brasil dentro do Festival do Rio -evento em que serão exibidas mais de 400 películas, entre 23 de setembro e 7 de outubro.
O filme é uma visão honesta e direta das relações de Joey, Dee Dee, Johnny e Tommy (depois entrariam Mark, Richie e CJ) realizada por dois fãs da banda, Michael Gramaglia e Jim Fields, entre 1998 e 2002, quando os Ramones entraram para o Rock and Roll Hall of Fame.
"Dono dos Ramones", Johnny é o que mais aparece em cena. O que chama a atenção em "End of the Century" é a sinceridade reveladora e sem rodeios com que a trajetória da banda e casos pessoais são relatados por eles mesmos. Um exemplo: em certo momento, Johnny comenta a morte de Joey e o porquê de não ter entrado em contato com ele: "Se eu não gosto de alguém, não iria querer que essa pessoa me telefonasse se eu estivesse morrendo".
É esse tipo de declaração que permeia "End of the Century". O documentário, de cerca de 90 minutos, traz depoimentos de todos os Ramones, mais familiares, empresários e conhecidos fãs, como Joe Strummer (do Clash, morto em 2002, em uma de suas últimas entrevistas) e imagens históricas.
Os Ramones, narra o documentário, tinham personalidades bem definidas e distintas: Tommy era disciplinado; Dee Dee, maluco; Joey, solitário e Johnny, controlador e autoritário. No início dos anos 80, Johnny "roubou" a então namorada de Joey, Lisa, e casou-se com ela. Desde então, até o final da banda, em 96, não se falaram.
Os Ramones não eram amigos ou uma família; eram um grande grupo de rock. Diz Captain Sensible, do Damned, no filme, sobre um antigo show: "Havia apenas umas 60 pessoas na platéia, mas todas saíram daquele show e formaram bandas".
E Johnny comandava tudo isso.


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