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LIVROS
THRILLER
Obra descreve jovem que serve de guia sexual para estrangeiros em Tóquio
"Miso Soup" de Ryu Murakami é romance em ritmo de "pulp"
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Fora do bairro da Liberdade,
os únicos lugares possíveis de
se encontrar arte japonesa no Brasil de 20 anos atrás era em cineclubes ou na feira, entre a abóbora e a
hortaliça, onde se vendiam os
mangás usados. Não dava para
entender os balões e legendas,
mas os desenhos eram fantásticos. O Japão não estava na moda,
a garotada não chegava a estudar
kanjí para ler quadrinhos como
hoje, e enquanto atualmente editoras publicam qualquer coisa
que se escreva de trás para diante,
naquela época fazia sucesso apenas o romance "Azul Quase
Transparente", de Ryu Murakami, lançado pela editora Brasiliense. Depois de tanto tempo,
Murakami (nada a ver com seu
quase homônimo Haruki Murakami) volta à cena com "Miso
Soup" (o título se refere ao "missoshiro", a sopa de missô ou pasta
de soja fermentada), um romance
em ritmo de "pulp".
Kenji é um jovem de 20 anos
que presta serviços de guia sexual
para estrangeiros interessados em
conhecer a vida noturna de Tóquio. Contratado por Frank, um
americano disposto a palmilhar
cada inferninho da zona de Kabuki-cho em busca da prostituta
ideal, ele identifica em seu cliente
estranhas particularidades, ao
mesmo tempo em que dois assassinatos escabrosos ocorrem. Desconfiado, o rapaz começa a relacionar os crimes com Frank, o
"freak", até tudo culminar num
cenário de violência extrema.
Já identificado como uma narrativa sobre a solidão nas grandes
metrópoles, "Miso Soup" parece
mais refletir sobre a paranóia contemporânea e a incomunicabilidade entre culturas, através do
comportamento de Kenji, narrador e único personagem interessante do livro. As digressões do
jovem traçam um panorama crítico sobre aspectos comportamentais da vida urbana japonesa, país
próspero onde, entre outras coisas, "colegiais se prostituem" e
"ocorrem mortes por excesso de
trabalho, apesar de o Japão ser um
dos países mais ricos do planeta".
"Drop out" consciente da sociedade de consumo, ao ser confrontado pelas circunstâncias trágicas
a que Frank o conduz, Kenji se
mostra moralmente ambíguo e
nisto reside a maior qualidade da
história, de resto um tanto esquemática e cheia de lugares-comuns
na composição do serial killer
americano, a ponto de se assemelhar a um infanto-juvenil em alguns momentos -ou a um argumento de olhos espichados para
Hollywood- e não há juízo de
valor nesta afirmação: o livro é insosso demais para tal.
Conhecido propagador da ficção japonesa na cultura americana, Murakami pratica algo distinto do terror psicológico recém importado do Japão (como nos livros de Kôji Suzuki, autor de
"Ring" e "Dark Water", as matrizes dos filmes) e mais próximo do
horror "gore" de Roger Corman e
Dario Argento, porém sem o mesmo nível de provocação e qualidade da obra destes cineastas
marginais. Para o meu paladar,
sobra catchup e falta sangue no
tempero desta sopa.
Joca Reiners Terron é escritor, autor de
"Hotel Hell", entre outros livros
Miso Soup
Autor: Ryu Murakami
Tradução: Jefferson José Teixeira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39 (216 págs.)
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