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Fábrica de vinil resiste ao tempo
Sucesso entre DJs, artistas de MPB e audiófilos, bolachas são preferidas pela qualidade de som
Versão em vinil do mais recente disco de Caetano Veloso joga luz à última fábrica desse produto em atividade no Brasil
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem |
Nilton José Rocha, criador da Poly Som, fábrica chegou a produzir quase 5 mil LPs por dia, mas viu a produção cair após o fim das encomendas de evangélicos |
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Se o novo disco de Caetano
Veloso chegar aos pick-ups de
DJs europeus e às boates da
moda de São Paulo e Rio, carregará um pouco da poeira da
Baixada Fluminense. A versão
em LP de "Cê" foi prensada no
município de Belford Roxo, na
última fábrica de vinis em atividade no Brasil, a Poly Som.
Caetano é um nome de primeira linha que se integrou à
turma dos que não querem deixar o vinil morrer. Está do lado
de Los Hermanos, Nando Reis,
Ed Motta e outros que têm lançado seus discos também em
LP. O objetivo principal é fazê-los chegar às pistas de dança,
pois DJs que se prezam preferem as grandes bolachas. Sorte
da Poly Som, que assim consegue sobreviver, apesar das dificuldades. Em 2004, a fábrica
produziu 43 mil discos. Em
2005, foram 32 mil. Até julho
deste ano, só 12,4 mil.
"Houve uma queda enorme,
mas continuamos trabalhando.
Só que também temos de fazer
outros produtos de plástico, como copos", diz a gerente Luciana Carvalho, 30. Segundo ela, a
maior parte das encomendas
vem de bandas de rock. Em segundo lugar estão os rappers.
Na contramão da história, a
Poly Som foi criada em 1999
por Nilton José Rocha, que trabalhava há 30 anos no meio fonográfico. Ele construiu uma linha de montagem capaz de
produzir até 5.000 LPs por dia.
Chegava perto disso até 2001,
enquanto recebia pedidos de
igrejas evangélicas. Depois que
elas passaram para os CDs, as
encomendas minguaram.
A maioria das gravadoras
prefere fazer o corte (a feitura
do disco) no exterior, deixando
com a Poly Som apenas a prensa (a reprodução das matrizes).
Como o produto é caro -"Cê"
sairá por R$ 84-, os LPs geralmente têm fins promocionais,
sendo distribuídos a DJs.
Sucesso nas pistas
"Os DJs foram responsáveis
por essa volta do vinil de forma
mais popular, mas os audiófilos
nunca o deixaram", conta o
cantor e compositor Ed Motta.
Parte do enorme sucesso de
Vanessa da Mata se deve ao vinil, pois a versão remix de "Ai,
Ai, Ai" estourou nas pistas. A
cantora é daquelas que têm o
fetiche do chiado: gosta até do
barulhinho que o atrito da agulha com a bolacha provoca.
"O CD inibe os graves e agudos, comprime tudo, é menos
humano. Com o LP, parece que
a música está sendo tocada na
sua sala", exalta Vanessa.
A revelação Céu é outra apaixonada que terá uma cota de
LPs no próximo disco. "Sou a
favor da resistência do vinil. É
um som maravilhoso, com os
graves mais encorpados, e um
objeto de muito valor, que não
se pode copiar", diz.
A Warner, que lançará o disco de Céu, já fez o mesmo com
O Rappa e Maria Rita. A Sony
BMG fez com Marcelo D2, Jota
Quest e Los Hermanos -que
vende o LP de "4" nos shows.
Pitty, Black Alien, Marcelinho da Lua, Negra Li, Cabal e
Leilah Moreno são outros integrantes do time. Quando o assunto é hip hop, LP é lei.
"Se não lançar hip hop em vinil, comercialmente não funciona. O vinil traz credibilidade, demonstra que o DJ tem
mais conhecimento cultural",
diz DJ Hum, que vendeu 1.500
cópias do compacto de "Senhorita", de seu grupo, o Motirô.
"O hip hop começou com o
DJ e isso se mantém até hoje. É
cultural", endossa KL Jay, DJ
do grupo Racionais MCs.
No Brasil, a indústria de eletroeletrônicos não produz mais
toca-discos e agulhas. Tudo
tem que ser importado. O setor
fonográfico não pesquisa o segmento desde 96. No mercado
internacional, ele entra na gaveta "outros meios físicos", ao
lado de fitas cassete e VHS. De
2004 para 2005, as vendas caíram 30%: US$ 531 milhões para
US$ 372 milhões.
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