São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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"Cansei de levar porrada", diz Ziraldo

Ao lembrar projetos como "Pasquim 21" e "Bundas", decreta: "Eu sou o rei dos bons projetos e dos fracassos econômicos'

Colecionador de polêmicas, desenhista, que foi preso três vezes pela ditadura, afirma que "fala demais" e depois precisa se "justificar"

DA REPORTAGEM LOCAL

Ziraldo é bom de política. Seu engajamento, que lhe renderia três prisões na ditadura militar, já era evidente em sua primeira peça, "Este Banheiro É Pequeno Demais pra Nós Dois", de 1961, e chegaria ao ápice com a criação do "Pasquim", em 1969.
No ano seguinte, ele e toda a equipe do jornal seriam presos. "Ter podido atravessar os anos de chumbo fazendo o "Pasquim" foi uma dádiva. Morríamos de medo, mas fazíamos de tudo."
A política também lhe abriria a porta da rua no jornal: quando restavam apenas ele e Jaguar entre os fundadores, cada um com um projeto para a publicação, decidiram quem ficaria por meio de uma aposta no resultado das eleições de 1982 para governador do Rio.
Venceu Leonel Brizola, e Ziraldo, partidário de Miro Teixeira, saiu -não sem antes dar um "entrevistão" intitulado "Ziraldo sai do Pasquim para entrar na história".
Contra a opinião de muitos ex-colegas, ele ressuscitaria o jornal em 2002, como "O Pasquim 21". Apesar de durar até 2004, o projeto se somaria à lista de fiascos em que investiu, como as revistas "Bundas" e "Palavra", de 1999. Depois dessas experiências, Ziraldo diz ter desistido do jornalismo.
"Cansei de levar porrada. Eu sou o rei dos bons projetos e dos fracassos econômicos."
Língua solta
Não apenas por seu envolvimento político, mas por seu notório desembaraço em entrevistas, Ziraldo é também um colecionador de polêmicas. "Eu me entusiasmo e depois tenho que me explicar", diz.
Perdeu muitos amigos? "A gente passa pela vida perdendo e reconquistando amigos. Esse negócio de falar demais e depois precisar me justificar já aconteceu demais comigo."
Ziraldo também atribui os problemas a citações fora de contexto. "O jornalismo atual tenta pegar o entrevistado pelo pé. O sucesso do "Pasquim" foi justamente porque a gente não fazia isso, íamos bebendo e conversando e o entrevistado acabava entregando o ouro."
A polêmica mais recente que quer desfazer é sobre sua impaciência com crianças. "Falei numa entrevista que não tinha paciência com criança e começou um movimento na internet reclamando. Esse pessoal é muito burro. Sei ler o olhar das crianças, tenho o maior carinho por elas, mas isso não me obriga a ter paciência, odeio levar para parquinho, quem gosta disso é chefe de escoteiro."
Como qualquer leitor de sua obra infantil sabe, ele valoriza as crianças e diz que é por elas e por clássicos como "O Menino Maluquinho" que será lembrado. "O Zuenir [Ventura] diz que quem escreve para criança dura mais na memória. É da natureza do livro infantil que os pais dêem aos filhos as obras que leram na infância. Então, quando você conquista uma geração, custa muito a desaparecer." (MARCO AURÉLIO CANÔNICO)


ALMANAQUE DO ZIRALDO
Autor:
Luis Saguar e Rose Araujo
Editora: Melhoramentos
Quanto: R$ 49,90 (304 págs.)


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