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"Cansei de levar porrada", diz Ziraldo
Ao lembrar projetos como "Pasquim 21" e "Bundas", decreta: "Eu sou o rei dos bons projetos e dos fracassos econômicos'
Colecionador de polêmicas, desenhista, que foi preso três vezes pela ditadura, afirma que "fala demais" e depois precisa se "justificar"
DA REPORTAGEM LOCAL
Ziraldo é bom de política. Seu
engajamento, que lhe renderia
três prisões na ditadura militar,
já era evidente em sua primeira
peça, "Este Banheiro É Pequeno Demais pra Nós Dois", de
1961, e chegaria ao ápice com a
criação do "Pasquim", em 1969.
No ano seguinte, ele e toda a
equipe do jornal seriam presos.
"Ter podido atravessar os anos
de chumbo fazendo o "Pasquim"
foi uma dádiva. Morríamos de
medo, mas fazíamos de tudo."
A política também lhe abriria
a porta da rua no jornal: quando restavam apenas ele e Jaguar entre os fundadores, cada
um com um projeto para a publicação, decidiram quem ficaria por meio de uma aposta no
resultado das eleições de 1982
para governador do Rio.
Venceu Leonel Brizola, e Ziraldo, partidário de Miro Teixeira, saiu -não sem antes dar
um "entrevistão" intitulado
"Ziraldo sai do Pasquim para
entrar na história".
Contra a opinião de muitos
ex-colegas, ele ressuscitaria o
jornal em 2002, como "O Pasquim 21". Apesar de durar até
2004, o projeto se somaria à lista de fiascos em que investiu,
como as revistas "Bundas" e
"Palavra", de 1999. Depois dessas experiências, Ziraldo diz ter
desistido do jornalismo.
"Cansei de levar porrada. Eu
sou o rei dos bons projetos e
dos fracassos econômicos."
Língua solta
Não apenas por seu envolvimento político, mas por seu notório desembaraço em entrevistas, Ziraldo é também um colecionador de polêmicas.
"Eu me entusiasmo e depois
tenho que me explicar", diz.
Perdeu muitos amigos? "A gente passa pela vida perdendo e
reconquistando amigos. Esse
negócio de falar demais e depois precisar me justificar já
aconteceu demais comigo."
Ziraldo também atribui os
problemas a citações fora de
contexto. "O jornalismo atual
tenta pegar o entrevistado pelo
pé. O sucesso do "Pasquim" foi
justamente porque a gente não
fazia isso, íamos bebendo e
conversando e o entrevistado
acabava entregando o ouro."
A polêmica mais recente que
quer desfazer é sobre sua impaciência com crianças. "Falei
numa entrevista que não tinha
paciência com criança e começou um movimento na internet
reclamando. Esse pessoal é
muito burro. Sei ler o olhar das
crianças, tenho o maior carinho
por elas, mas isso não me obriga a ter paciência, odeio levar
para parquinho, quem gosta
disso é chefe de escoteiro."
Como qualquer leitor de sua
obra infantil sabe, ele valoriza
as crianças e diz que é por elas e
por clássicos como "O Menino
Maluquinho" que será lembrado. "O Zuenir [Ventura] diz que
quem escreve para criança dura
mais na memória. É da natureza do livro infantil que os pais
dêem aos filhos as obras que leram na infância. Então, quando
você conquista uma geração,
custa muito a desaparecer."
(MARCO AURÉLIO CANÔNICO)
ALMANAQUE DO ZIRALDO
Autor: Luis Saguar e Rose Araujo
Editora: Melhoramentos
Quanto: R$ 49,90 (304 págs.)
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