São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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crítica

Descuido com repertório tira força de projeto

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Mart'nália deixa mais claro seu projeto de fundir o samba com outras alas da música negra, em especial a corrente pop, e nela o soul.
O CD começa bem soul com a fraca "Alívio" e a boa tim-maiana "Tava por Aí".
Vai migrando para o samba numa espécie de degradê: o sambalanço "Deu Ruim", o sambossa "Ela É Minha Cara", o samba com percussão bem carioca "Não Encontro Quem me Queira".
Ainda há toques de jazz ("Sai Dessa"), África ("Angola") e Bahia ("Alegre Menina"), e o disco termina conceitualmente numa "Don't Worry, Be Happy!" com cuíca, violoncelo e loops. A intenção é boa, mas o resultado é constrangedor -na sonoridade, nos detalhes em português e na interpretação.
Ao dar um passo mais forte na sua louvável busca por não se prender ao dito samba tradicional, Mart'nália se descuidou do repertório. "Pé do Meu Samba" (2002), com direção de Caetano, e "Menino do Rio" (2006), produção de Bethânia, mostravam essa busca com atenção grande à qualidade das composições.
Agora, a excelência não chega à metade das faixas.
Os maiores destaques são mesmo os sambas-sambas: "Batendo a Porta", um João Nogueira/Paulo César Pinheiro com o sincopado habitual; "Fé", uma jóia afrocarioca de Jorge Agrião e Evandro Lima; e "Tom Maior", em que Martinho da Vila ensina o que é ser carioquíssimo com balanço universal. Sua filha conhece esse caminho.
Não há por que se perder.


MADRUGADA
Artista: Mart'nália
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33, em média
Avaliação: regular



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