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RELÂMPAGOS
Flor da
ferida
JOÃO GILBERTO NOLL
"Queres o quê?", perguntei àquela boca embrenhada no que chamam de humano. Ela se verteu: a substância parecia medula decantada, seu derradeiro cerne alcançando agora a praia
do meu beijo. Beijei. A boca
relutou por um instante.
Depois abriu-se inteira,
atordoante, indistinta de
outros materiais galácticos.
E fomos, fomos sim, endiabrados até onde o gemido se
pacifica no silêncio da véspera do mundo. Ah, se eu
pudesse escolher!, talvez
não quisesse mais reencarnar no ofício do dia. Bastava
só isso: esse leve lamento na
flor da ferida, essa orgia insana.
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