São Paulo, quinta, 17 de setembro de 1998

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RELÂMPAGOS
Flor da ferida

JOÃO GILBERTO NOLL

"Queres o quê?", perguntei àquela boca embrenhada no que chamam de humano. Ela se verteu: a substância parecia medula decantada, seu derradeiro cerne alcançando agora a praia do meu beijo. Beijei. A boca relutou por um instante. Depois abriu-se inteira, atordoante, indistinta de outros materiais galácticos. E fomos, fomos sim, endiabrados até onde o gemido se pacifica no silêncio da véspera do mundo. Ah, se eu pudesse escolher!, talvez não quisesse mais reencarnar no ofício do dia. Bastava só isso: esse leve lamento na flor da ferida, essa orgia insana.




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