São Paulo, quinta, 17 de setembro de 1998

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ANÁLISE
Festival amplia sua programação

AMIR LABAKI
de Nova York

O longa brasileiro "Ação Entre Amigos", depois da boa repercussão em Veneza-98, abre hoje a 10ª Mostra Internacional do Filme do Rio de Janeiro. O evento ganhou mais cinco dias e estende-se até 1º de outubro próximo. Para azar dos paulistanos, como já aconteceu no ano passado, não haverá uma extensão em São Paulo.
Serão exibidos cerca de 200 títulos de 40 países. A seleção divide-se em 12 ciclos. A 10ª MostraRio assume-se como uma espécie de festival dos festivais, exibindo um pouco de tudo, de novidades a clássicos, de "cinemão" a experimentais. Pluralismo é a maior qualidade. Indefinição de perfil, o principal defeito.
Um dos destaques é a estréia de quatro longas brasileiros. Além do thriller político "Ação entre Amigos", de Beto Brant, serão lançados "Amor & Cia.", de Helvécio Ratton, "O Toque do Oboé", de Cláudio McDowell, e "O Viajante", de Paulo César Saraceni.
Dois lançamentos atrasados no Brasil concentram as atenções no Panorama do Cinema Mundial. "Desconstruindo Harry", de Woody Allen, pousa no Rio exatamente um ano depois de sua estréia em Veneza. Allen acabou de lançar no festival italiano "Celebrity" (Celebridade), sua corrosiva comédia sobre a fama. O autobiográfico "Harry" é melhor e mais inventivo.
Há muito tempo Pedro Almodóvar não acertava tanto a mão quanto no romântico policial "Carne Trêmula", adaptado de Ruth Rendell. Também Angela Molina não rendia tanto desde os tempos do velho Buñuel.
O japonês Sabu, de "Postman Blues" e "Unlucky Monkey", diz a que veio em Expectativa 98. Midnight Movies traz o segundo documentário de Iara Lee, "Modulations", dessa vez resumindo a história da música tecno. O ultracinéfilo "Billy's Hollywood Screen Kids", de Tommy O. Haver, é obrigatório para a galera GLS do Mundo Gay.
Filme Documento leva finalmente ao Rio o indispensável retrato de Bergman dirigido por Gunnar Bergdahl ("Voices of Bergman"). Um mergulho na pré-história do melodrama cinematográfico americano, a partir do acervo do MoMA nova-iorquino, torna obrigatório o ciclo Tesouros da Cinemateca.
As duas retrospectivas são de assistir de joelhos. Roberto Rossellini ("Roma, Cidade Aberta") mostra em 19 filmes porque foi o mais importante cineasta italiano, ponto. Já o indiano Satyajit Ray simplesmente esculpiu em imagens a Índia contemporânea, em clássicos como "Pather Panchali" e "O Mundo de Apu". Fã de Kiarostami, corra para este filho de Renoir.
São quatro os ciclos especiais: Herança Judaica, Curtas Britânicos, Centenário Eisenstein e Retro Lygia Pape. São Paulo já conferiu neste ano que são imperdíveis dois dos documentários sobre o diretor de "Outubro": "A Casa do Mestre", um resumo biográfico assinado pelo diretor do museu Eisenstein, Naum Kleiman, e "Eisenstein no México", o principal documentário já rodado sobre sua frustrada experiência latino-americana. É em tudo superior ao preguiçoso e exoticista "A Fantasia Mexicana de Eisenstein", filme de montagem também programado.



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