São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

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"BRAZIL: BODY AND SOUL"

Guggenheim veste preto

Denise Andrade/Divulgação
O altar-mor do Mosteiro de São Bento, de Olinda, durante instalação no Guggenheim, em NY



Arquiteto escurece museu para abrigar mostra de arte brasileira, a partir de amanhã


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Em maio passado, o arquiteto francês Jean Nouvel apresentou uma foto da parte interna do museu Guggenheim para os curadores que estavam em busca de um cenógrafo para a mostra "Brazil: Body and Soul" (Brasil: Corpo e Alma). Só que ele mostrou apenas o negativo da imagem, o que escureceu todo o museu -que é branco. Era essa sua proposta.
"Escolhemos essa sugestão por representar um desafio e por valorizar as obras do barroco", diz Julian Zugazagoitia, coordenador da mostra. Nouvel é autor, entre outros projetos, do Instituto do Mundo Árabe e da Fundação Cartier, em Paris.
A sua mais recente criação é aberta para convidados amanhã. O altar-mor do Mosteiro de São Bento, de Olinda, já chegou, mas não estará pronto para a inauguração. São necessários ainda mais dez dias, prazo que deve coincidir com as últimas obras a serem penduradas: as telas de Albert Eckout, do Museu da Dinamarca. De lá vem também o mantilete Tupinambá, uma das sensações da Mostra do Redescobrimento.
Fora esses atrasos, está tudo quase pronto. Cerca de 400 peças apresentam um panorama da arte no país, de certa forma um resumo do Redescobrimento, realizado no ano passado em São Paulo.
Das obras, 260 são barrocas. Foram elas que inspiraram Nouvel a escurecer o museu.

Folha - O que o levou a escurecer o Guggenheim internamente?
Jean Nouvel -
É a sinergia de algumas idéias. A primeira delas veio de uma série de objetos de arte barroca que vi. Religiosos, eles possuem um mistério e um esplendor incrível por causa do ouro que possuem. Apresentar as obras do barroco com um foco de luz na escuridão é um efeito muito poético e emocionante.
Outra idéia veio do próprio espaço, o museu projetado por Frank Loyd Wright. Pensei em inverter totalmente a cor, de branco para preto. Tal oposição, como se fosse o negativo de uma foto, seria uma nova visão, no mesmo espaço, o que representa respeito a ele. Conseguimos criar um novo espaço com todos os elementos arquitetônicos de seu criador.

Folha - Ao inverter radicalmente o espaço, o senhor também contribui com a tentativa de reverter os estereótipos do Brasil, não é?
Nouvel -
Busquei criar para cada obra o melhor ambiente possível para compreendê-la. A arte barroca brilha na escuridão, enquanto a arte moderna e contemporânea estão num espaço branco. Há salas com cores também.

Folha - Algumas de suas obras, como a Fundação Cartier e o Instituto do Mundo Árabe, são muito diferentes, parecem feitas por arquitetos diferentes...
Nouvel -
Essa é mesmo a base de meu trabalho. Quando crio algo, busco algo específico, novo. Não busco seguir um único vocabulário, mas, sim, o oposto. Sinto-me mais próximo de um diretor de cinema: para cada questão, um sentimento diferente deve surgir.

Folha - O arquiteto Frank O. Gehry disse, certa vez, que ele se preocupa com o espaço em torno de um edifício, e não apenas com seu desenho, o sr. concorda?
Nouvel -
Sim, claro. Hoje em dia não se pode pensar em criar apenas um belo edifício, ele deve contribuir e dialogar com a paisagem. Não estamos na era da autonomia dos objetos, mas da irradiação.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da associação BrasilConnects



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