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27° MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP
Em "Elephant", que tem como cenário o massacre de Columbine, diretor privilegia a figura do adolescente sem defender teses
Van Sant choca através da simplicidade
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Gus van Sant filma jovens como nenhum outro cineasta
contemporâneo. Lança em direção a eles um olhar curioso, erotizado, que potencializa a imagem
do mais banal de seus filmes
("Gênio Indomável", para citar
um exemplo).
Em "Elefante", Palma de Ouro e
prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, o diretor vai longe nessa proposta. Mais solto na
composição do quadro, mais livre
na direção dos atores (pela primeira vez, não-profissionais), ele
fez um filme de pura observação
sem ser, necessariamente, um filme de voyeur.
A referência silenciosa, porém
evidente, é o massacre ocorrido
na escola de Columbine, aquele
em que dois adolescentes mataram 13 e feriram dezenas de estudantes e professores da escola onde estudavam, antes de decidirem
se suicidar.
O título é uma homenagem a
um filme homônimo, muito pouco conhecido, do diretor inglês
Alan Clarke, que aborda a violência na Irlanda do Norte e particularmente o envolvimento dos jovens com o IRA (Exército Republicano Irlandês).
Para Clarke, a questão da violência juvenil é do tamanho de
um elefante na sala de estar mas,
ainda assim, todos parecem se recusar a enxergá-la.
O tratamento de Van Sant a tema tão complexo é despojado,
numa aparente recusa de intelectualização do episódio. O que
realmente lhe interessa é o adolescente, o espaço físico que o cerca
(no caso, a cidade de Portland,
onde ele realizou praticamente
todos os seus filmes) e seu cotidiano: aula, dever de casa, esportes,
hobbies, fofoca, etc.
A partir daí, o diretor constrói
longos planos-seqüências que
acompanham os personagens de
perto, um a um, pelos gramados
onde se joga futebol, os longos
corredores que levam às salas de
aula, o refeitório limpo e impecável, as paredes de vidro que dão
estranha "transparência" a certos
cantos da escola. Quando for necessário, ele voltará no tempo para mostrar como e quando esses
personagens se cruzaram nesse
dia de desfecho trágico.
"Elefante" não é, de forma alguma, um filme de tese como era,
por exemplo, o documentário superexplicativo "Tiros em Columbine". Mais parece um filme "geográfico", em que o enquadramento muitas vezes é estranho, e o enfoque, aparentemente banal. Mas
é justamente essa "simplicidade"
que faz a grandeza do filme.
Quando a violência entra em cena, tratada de forma absolutamente anti-espetacular, ela se torna impressionante em sua banalidade. Não há espaço para a emoção lacrimosa, só para o choque.
Elefante
Elephant
Direção: Gus van Sant
Produção: EUA, 2003
Com: Alex Frost, Eric Deulen e John
Robinson
Quando: hoje, às 23h10, no Unibanco
Arteplex, amanhã às 14h30, no Cinearte
1, dom. às 19h, no Villa-Lobos 2, e dia 24,
às 21h30, no Cine Morumbi 3.
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