São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2005

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Amni Hot Spot mostra os estilistas do futuro


Coleções deste ano serão vendidas em lojas temporárias depois dos desfiles
João Wainer/Folha Imagem
Os estilistas e o organizador do Hot Spot, Paulo Borges (de tênis vermelho), no Iguatemi


ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

Você já ouviu falar na São Paulo Fashion Week, certo? É o maior evento de moda do país. Mas será que sabe o que é o Amni Hot Spot? É a principal incubadora de novos estilistas. É dali que sairão boa parte dos designers que definirão a moda brasileira no futuro.
A partir de hoje, até quarta-feira, os 23 participantes do Amni Hot Spot mostram suas coleções -para convidados- em um novo espaço do shopping Iguatemi. A mudança dos desfiles para o centro de compras mais sofisticado de São Paulo abre uma etapa ambiciosa do projeto, em termos de visibilidade e crescimento.
Tem mais novidades. Em 2006, o Hot Spot vai lançar um prêmio de moda jovem anual, que será entregue durante os desfiles de verão. "Daremos um prêmio em dinheiro, entre R$ 200 mil e R$ 400 mil, para o estilista estabelecer o seu negócio", revela Paulo Borges, criador, organizador e mentor da São Paulo Fashion Week -que faz dez anos em 2006- e do Amni Hot Spot. Sem data definida, a organização do Hot Spot quer ainda fundar uma escola-oficina para formar mão-de-obra.
Outra inovação: após os desfiles desta semana, com as coleções da temporada Verão 2006, as roupas serão vendidas durante dez dias, a partir de 21 de outubro, na Casa do Hot Spot, na Vila Madalena (r. Inácio Pereira da Rocha, 170).
Os desfiles do Amni Hot Spot, além de servirem de vitrine aos novos designers, costumam ser também uma festa divertida, onde predomina a liberdade de criação e a atitude vanguardista.
Os estilistas são todos muito jovens, com idade média de 25 anos. Adoram misturar a moda com as artes, flertando com a música, o cinema e a performance. Estão ligados na cultura das ruas, no pop e nas novas mídias. Ainda guardam um pouco de rebeldia e de contestação. Atuam como um coletivo de moda, como há os coletivos de artes plásticas -grupos que preferem criar em conjunto, trocando conceitos e trabalhos. No Hot Spot, um designer pode ser o stylist (que produz a imagem geral da coleção) de outro. Ou pode ajudar a escolher a trilha do desfile. Ou desenhar a estamparia do amigo e assim por diante.
Essa é a parte do prazer. De fato, os 23 jovens estilistas estão no Hot Spot para aprenderem a ser bons profissionais e a lidar com o mercado de moda. E, no fundo, o desejo de todos é desembarcar na São Paulo Fashion Week, pois é ali que a sua carreira pode deslanchar -no mercado e na mídia.
Não é fácil chegar lá. "Não adianta a coleção ser boa na passarela, ela precisa ter um desdobramento como produto e reverter em venda", diz Paulo Borges. "Ir para a Fashion Week é como colocar uma lente de aumento no trabalho. O estilista precisa ter estrutura para atender os pedidos, senão ele fecha em três estações."
Foi para suprir as deficiências dos designers no campo do comércio e fazer uma ponte entre eles e o mercado que Borges criou o Hot Spot em 2001, com nove participantes. O projeto ajuda a produzir e financiar a coleção, intensifica as relações dos estilistas com os compradores e incentiva a abertura do primeiro negócio.
"O estilista pode ter o talento que tiver, mas se não contar com uma "network", uma estrutura de ponta a ponta e um conhecimento orgânico da moda, não vai conseguir fazer muita coisa", afirma.
O projeto tem dado certo. Cinco estilistas que passaram pelo Hot Spot já conseguiram chegar na Fashion Week e instalar lojas na cidade. Outros ainda aguardam a sua vez. "No início, imaginávamos que em três anos todos estariam prontos para o mercado. Mas descobrimos que o processo varia conforme a personalidade de cada um e as condições da economia brasileira", diz Borges.

Do sonho à realidade
Depois de sete edições do Hot Spot, Érika Ikezili, 29, conseguiu entrar para a elite da Fashion Week. Quando deu o salto, seu trabalho "multiplicou por três", ela conta. "No Hot Spot eles ajudavam em tudo, marketing, desfiles... Agora, faço tudo sozinha. Por isso não é fácil entrar na Fashion Week. É preciso ter certeza de que você vai sobreviver."
"O Hot Spot traz o estilista sonhador para a realidade", define a estilista Gisele Nasser, 28, que fez parte de três edições do evento. "É um celeiro de talentos, preocupado em incentivar novas idéias, num clima de vanguarda, mas o mais importante do projeto é a visão de mercado que ele ensina." Há um ano, Gisele é um dos destaques da Fashion Week.
Simone Nunes, 28, completa nesta temporada seu oitavo desfile no Hot Spot. É um dos talentos mais citados entre os experts, mas ainda aguarda a hora de ir para a Fashion Week. "Fico aflita para entrar, mas sei que preciso estruturar melhor a minha empresa. Fora do Brasil os estilistas levam até dez anos para fazer isso."
Cada edição do Amni Hot Spot, que é bancado pela Rhodia (Amni é uma marca da fábrica) e outros patrocinadores, custa R$ 800 mil. São duas edições por ano, para os desfiles de inverno e verão, quando o trabalho de vários meses, conduzido sob a proteção exigente de Paulo Borges e sua equipe, é então submetido ao olhar impiedoso dos críticos e do mercado.


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