USP celebra 300 anos de Antônio José da Silva

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na semana seguinte ao festejo judaico do Yom Kipur (Dia do Perdão), o Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da USP promove a Semana Antônio José da Silva, celebrando os 300 anos de nascimento do dramaturgo.
Retratado no filme "O Judeu" (1988), de Jom Tob Azulay, Silva nasceu no Rio de Janeiro em 1705, oriundo de uma família cristã-nova que se refugiara no Brasil. Formado em direito em Coimbra, foi preso com sua mulher em 1737, sob acusações da Inquisição de prática de judaísmo, e executado em 1739, em um auto-de-fé.
À época, o monarca D. João 5º havia italianizado completamente a música portuguesa, com a importação de músicos da península para Portugal e o envio de compositores portugueses à Itália para estudarem como "bolseiros".
Como conseqüência, o gosto musical luso era dominado pelo gênero italiano conhecido como "ópera séria", cantada em idioma peninsular, com libretos de Piero Metastasio (1698-1782).
Em contraposição a essas montagens, a partir de 1733 o Teatro do Bairro Alto começou a encenar espetáculos de bonecos ou marionetes, misturando texto declamado em português, de autoria de Antônio José da Silva, e números musicais cantados.
Com temática mitológica, misturando personagens sérias e cômicas, e atingindo um público não apenas aristocrático, mas também integrado por membros da burguesia, foram oito as "óperas do judeu" levadas à cena; a posteridade conservou as partituras de duas, "As Variedades de Proteu" e "As Guerras de Alecrim e Manjerona", de Antônio Teixeira (1707- depois de 1759).
Mas não é esta a música que se ouvirá no concerto de abertura do evento, que ocorre hoje, com a participação de Anna Maria Kieffer (mezzo-soprano), Mauro Wrona (tenor), Gisela Nogueira (viola de arame e arranjos) e Elson de Oliveira (percussão).
"Vamos mostrar que a influência da cultura judaica, marrana, cristã-nova na formação da cultura brasileira é maior do que parece", diz Kieffer. A apresentação destaca cânticos de origem judaica que, devido à perseguição religiosa, foram encontrados no Brasil com outras funções, como um canto de guarda do sábado que apareceu no Ceará como aboio.
Amanhã, às 20h30, com direção de Jolanda Gentilezza, um grupo de alunos da USP encena a peça "O Processo de Antônio José da Silva", de Anita Novinsky. A programação tem ainda duas mesas-redondas, quarta e quinta, às 20h.