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Festival em SP amplia fronteiras do teatro grotesco
Dez peças curtas que integram a programação passeiam por humor, escatologia e "exposição da mesquinharia'
Os espetáculos serão apresentados em esquema de rodízio, três por noite, no N.Ex.T, de sexta a domingo, até o dia 9 de novembro
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O senso comum costuma associar o grotesco àquilo que se
presta ao riso, à galhofa. Para
ampliar o leque de acepções, o
dramaturgo e diretor Antonio
Rocco concebeu o Festival do
Teatro Grotesco de São Paulo,
cuja primeira edição começa
hoje, no N.Ex.T (veja a programação no quadro à esquerda).
"Entendo o grotesco como o
limite entre o homem e o animal, o ponto em que acaba a racionalidade e começa o instinto. É nessa zona indefinida, turva que ele mora, e é ela que tentaremos iluminar", explica ele.
Além do humor, essa "área de
penumbra" abriga a escatologia
e a "exposição do pior sentimento humano, da mesquinharia, da perversidade", nas palavras de Rocco.
As três facetas estão contempladas nos dez textos que serão
encenados durante o festival
-encomendados a Fernando
Bonassi, Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, Pedro Vicente e Hugo Possolo,
entre outros.
"Todo mundo tem um texto
maldito, de experimentação,
teste de limites, que seria difícil
montar em qualquer teatro",
diz Rocco. "E não há nada mais
atual do que o grotesco, porque
ele não tem forma própria, está
em constante mudança. Assim
também é nossa sociedade:
nunca as coisas ficaram obsoletas tão rápido."
Os espetáculos serão apresentados de sexta a domingo,
durante quatro semanas, em
esquema de rodízio. A cada
noite, o público verá três histórias (cada uma com duração
entre dez e 30 minutos).
"Chocar é démodé"
No cardápio, há desde o surto
de um quase famoso num programa de TV ("Antropofagia e
Fagocitose", de Newton Cannito) até a adaptação de um conto
sobre uma família de roceiros
("Nhola dos Anjos", de Mário
Viana), passando pelo falatório
movido a antidepressivos de
uma mulher ("Helena Comprimida", de Sérgio Roveri).
Dionísio Neto, um dos dramaturgos convidados, saúda
um colega de ofício em "Nelson
Rodrigues, Meu Amor, Meu
Amor, Meu Amor". Na trama, a
Glorinha da peça "Perdoa-me
por me Traíres" vai ao paraíso
oferecer sua primeira menstruação ao dono da história.
"Pego todos os cacoetes dele,
me aproprio de sua linguagem e
faço uma espécie de sátira à la
teatro de revista", diz Neto, para quem chocar "é meio cafona,
démodé". "Não escrevi o texto
com esse intuito. Quero provocar o riso em cima de uma situação grotesca."
Ao idealizar o festival, Rocco
definiu o grotesco como aquilo
que "dispensa o verniz social,
causa um ruído indisfarçável".
A livre circulação de idéias e
discursos na internet e a derrubada sucessiva de tabus na cena
pública ainda deixaram temas
capazes de ruborizar a platéia?
"Por mais evoluídos que estejamos, ainda há resquícios de
arquétipos apodrecidos", afirma o ator Ivan Capua, que está
em cinco peças do festival -e
divide o palco com outros oito
intérpretes.
Já Neto avalia que "tudo foi
dito, sim, mas há muitas maneiras de dizer as mesmas coisas de outras formas".
Aviso no prólogo
Para evitar que as tais "outras
formas" de contar histórias
causem desconforto excessivo
em um ou outro desavisado da
platéia, toda noite será aberta
por um breve cabaré "didático".
Nesse prólogo, ambientado
na Roma Antiga, serão apresentadas as três vertentes do
grotesco, acompanhadas do
aviso de que ainda é possível
deixar a sala. Os que ficarem
ouvirão um ambíguo "parabéns
por sua coragem".
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