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Brasileiro confessa que não viu o filme
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Sou talvez o único brasileiro
(sem contar um ou outro índio ianomami) que não viu "Titanic".
Os motivos da recusa não foram
ideológicos, mas bem prosaicos.
Primeiro, as filas. Só encaro filas
com mais de dez pessoas para ver
uma final ou pagar conta atrasada.
Segundo, o horário das sessões.
Que fazer? Sair de casa no meio da
tarde para pegar a sessão das 18h
ou pegar a das 21h30 (e jantar tarde, ter pesadelos e me xingar no dia
seguinte)?
Sim, claro, há o fim-de-semana.
Um jeito de matar dois coelhos: ver
o filme e sair com o filho de 7 anos.
É aqui que essa crônica ganha ares
de reportagem-denúncia.
Fui com meu filho num sábado
ao Astor e entrei numa fila quilométrica. Na bilheteria me informaram que meu filho não poderia entrar, porque o filme era para maiores de 12 anos.
Lucas protestou: "Mas meus colegas todos já viram". E a bilheteira, abrindo um sorriso debilóide:
"É só durante a semana que pode,
meu fofo".
Percebem a jogada? Durante a semana, havia uns lugares ociosos no
cinema, sobretudo nas sessões da
tarde, então "vinde a nós as criancinhas". No fim-de-semana, as
crianças tornavam-se indesejáveis,
logo, "cumpra-se a lei".
Eu tinha duas opções. 1. Fazer
meu filho cabular aula para ver
"Titanic". Recusada. 2. Trair meu
filho e ver sozinho. Nem pensar.
Mas no tempo em que fiquei na
fila ouvi a história do "Titanic"
contada várias vezes. Sei que mocinho bonito e pobre ama mocinha
bonita e rica e morre no fim, como
aliás quase todo mundo.
Ouvi também uma garota dizer
ao namorado: "Eles merecem esse
sucesso, né? Afinal, gastaram US$
200 milhões".
É isso aí. Agora com o vídeo vou
poder cumprir o dever cívico de
dar uma força a "eles".
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