São Paulo, sábado, 17 de outubro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MODA - PARIS Galliano aciona Ballet-Russes de Diaghilev
ERIKA PALOMINO enviada especial a Paris Faunos descansam à beira de cascatas de água, em meio a pétalas de flores pelo chão e um aroma cítrico no ar. Bailarinos se exercitam, demonstrando o vigor de seus corpos seminus, enquanto criados descalços servem pequenos copos de limonada a seletíssimos 150 convidados, cada um sentado numa cadeira diferente em junco, no térreo de uma sala com balcão forrado de tapetes. Tudo isso para ver a nova coleção de primavera-verão do prêt-à-porter do estilista inglês John Galliano, em Paris, na noite de anteontem. A temporada termina na terça-feira na cidade, depois de nove dias de desfiles. Bem, ambientação é o forte de John Galliano. Foi ele quem levantou a onda do desfile-espetáculo em Paris, apresentações com caráter de show, onde o convidado é conduzido a fazer parte do universo particularíssimo do estilista. O circo; a China; os anos 40; Galliano nos introduz a diferentes referências que, fora da passarela, resultam em roupas de corte perfeito e preço nas alturas. De um tempo para cá, parece que a imprensa especializada se cansou um pouco da teatralidade de Galliano, cobrando dele roupas mais usáveis, menos fantasiosas do que trajes de tribos indígenas. Esse é o corrente desafio de Galliano, depois de ter-se firmado como o grande decorador da moda dos anos 90, acionando a seu favor o barroco, o rococó, o inimaginável. Pois dessa vez é a Rússia. Para sua coleção na maison Dior, já estavam lá um militarismo nostálgico soviético, bem como as artes plásticas e suas cores típicas. Para a marca que leva seu nome (à venda também em São Paulo na loja Daslú), Galliano olhou para um dos momentos mais criativos da história do país, o Ballet-Russes de Diaghilev, lembrando o bailarino Vaslav Nijinsky e os personagens dos anos 10 e começo dos 20. Uma nuvem provocada por uma máquina de fumaça (máquina do tempo?) envolve os convidados ao início do desfile. Vai começar. Uma modelo percorre descalça a platéia com passos de dança abstratos. Ela usa um vestido de musseline branca, finíssimo, amassado, com as alças enroladas sobre uma t-shirt cortada nas mangas e na barriga, enrolada como fazem dançarinas em ensaio. Claro, é Shalom Harlow, ex-bailarina, quem se dá melhor, encantando com um vestido nos mesmos moldes. Outro, em renda rosa, é usado sobre um leotard mesmo, típico do balé. Christelle, igualmente dramática, é a próxima modelo, com touca de meia preta na cabeça e vestido drapeado. Ao som de Kate Bush ("Babushka", lembrando as avozinhas russas), as violinistas servem de pretexto para a entrada dos tailleurs em crepe de lã preto, com delicados babadinhos na saia abaixo do joelho, alguns com aquele decote que ajudou a celebrizar Galliano, quadrado, encaixado na manga curta. Outras saias ganham pequenas pregas, femininas e muito chiques. Muda o cabelo, muda a maquiagem, agora sóbria e discreta. Os nobres que assistiam aos espetáculos da companhia respondem pelo segmento da Nova Decoração no desfile, esse estilo feito de tecidos rebuscadíssimos. A nova top Maggie Rizer é a primeira a entrar como uma bailarina do revolucionário balé "A Sagração da Primavera", marco oficial do modernismo. Maggie reproduz a movimentação bidimensional da coreografia, posando para os fotógrafos num vestido dourado, bordado, sobre uma musseline transparente, com peruca comprida ondulada. Fios dourados, flores e pedras entram em outra veste aplicada com pétalas. As ninfas do "Prelúdio à Tarde de um Fauno" são os personagens seguintes, com a modelo Angela Lindvall loura, de franja, com vestido roxo de musseline e capa amarrada na cintura. As brasileiras Shirley Mallman e Gisele Bundchen completam o casting. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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