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LIVRO/LANÇAMENTO
Escritor, que chegou à Shindo Renmei por causa de "Chatô", diz que não se candidata nem a síndico
"Biografar Vargas seria minha última obra"
ESPECIAL PARA A FOLHA
Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Fernando
Morais à Folha.
(CYNARA MENEZES)
Folha - É meio realismo mágico
que os japoneses no Brasil acreditassem ter vencido a guerra, não?
Fernando Morais - É muito Macondo. É incompreensível que
180, 200 mil pessoas se recusassem a acreditar num negócio tão
transparente, tão cristalino. É como hoje você não acreditar que o
homem não pisou na Lua, que foi
uma armação.
Folha - O governo acabou contribuindo, com tantas proibições?
Morais - Os japoneses não tinham nenhuma relação afetiva,
cultural, e nem queriam ter, com
o Brasil. Foram proibidos de ler
jornais, de falar japonês, não falavam português, não podiam reunir em público mais de duas pessoas, não podiam ter rádio em casa, não tinham embaixada, não tinham consulado. Vem a Shindo
Renmei e começa a fazer folhetos,
boletins, jornal, falsificar a "Life",
matar. Passou a ser a ligação da
colônia com o mundo.
Folha - Como o sr. se deparou com
a história da Shindo Renmei?
Morais - Estava entrevistando
uma senhora nissei que tinha sido
namorada do Chatô quando adolescente e quis saber como a vida
dela cruzou com a dele. Ela disse
que foi uma casualidade, porque
seu pai era da Shindo Renmei, foi
preso, e o Chatô ajudou a soltar.
Aquilo ficou na minha cabeça.
Folha - Quanto tempo tardou?
Seus adiamentos já viraram história...
Morais - "Chatô" levei sete anos,
este só quatro, então estou aumentando o ritmo. Este teve uma
desvantagem: não falo uma sílaba
de japonês. Para ter uma idéia, havia uma ilustração que estava de
cabeça para baixo. Mas a vantagem era a concentração geográfica, diferentemente de "Chatô" e
de "Olga". Isso facilitou.
Folha - Por que seu interesse em
livros ambientados na era Vargas?
Morais - Tenho uma fascinação
pelo período que vai da Proclamação da República até a Revolução de 30. Depois tem o período
de 30 até 54, que é outro período
muito rico. De lá para cá, meu interesse cai. Getúlio é um personagem fascinante, que não está devidamente revelado ainda. Se vier a
fazer a biografia dele, terá que ser
a última coisa da minha vida. É
um trabalho para dez anos.
Folha - O sr. o admira?
Morais - É evidente que pelo Getúlio do Estado Novo eu não posso ter a menor simpatia. Mas não
posso deixar de admirar a figura
que fez o que fez neste país. O Brasil tem hoje a cara que tem, era para ser muito pior, graças a Getúlio.
Folha - O sr. desistiu da política?
Morais - Desisti de eleição. Eu
não me candidato mais nem a síndico de prédio. É muita chatice, a
possibilidade de fazer coisas efetivamente é pequena. Sou do
PMDB, mas nem sei se sou mais.
Um PMDB que tem o Jáder (Barbalho) presidente não é exatamente o PMDB dos meus sonhos.
Sou PMDB por inércia.
Folha - Ou pelo Orestes Quércia?
Morais - Sou amigo pessoal do
Quércia, gosto dele, tenho uma
relação boa com ele, mas passou.
Hoje eu acho que tem gente que
faz isso melhor que eu.
Folha - Daria o livro para filmar
depois da história com "Chatô"?
Morais - Não só teria coragem de
dar este livro para filmar, como se
o Guilherme Fontes me telefonasse aqui, agora, e fizesse uma boa
proposta, eu venderia para o Guilherme. Ele pode ter cometido erros administrativos, por inexperiência. Dolo, desonestidade, estou absolutamente convencido de
que não.
Folha - O sr. acha que a comunidade nipo-brasileira vai comprar o
livro?
Morais - Acho que vai comprar
discretamente, como eles fazem
sempre. E acho que vai gostar.
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