São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2000

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"AS VIRGENS SUICIDAS"
A primeira vez de Sofia Coppola

SÉRGIO DÁVILA
NA FLÓRIDA

Primeiro , dois esclarecimentos: nem todas as suicidas do título são virgens; e a história não é baseada em fatos reais, como você deve ter ouvido falar por aí.
Ao filme, pois. "As Virgens Suicidas", estréia da atriz Sofia Coppola na direção de um longa, é mais do que uma curiosidade, por ser ela quem é. É bem-feito, delicado e sensual, que você vê como se estivesse folheando escondido o diário de uma adolescente enquanto ela está no banho.
Sofia, 29, dona da boca mais linda de Hollywood, estreou no cinema como o bebê recém-nascido que está sendo batizado em "O Poderoso Chefão" (72), obra-prima de seu pai, Francis Ford, que a chama carinhosamente de "Domino". Debutou na direção com o curta "Liking the Stars", de 98. É casada com o diretor Spike Jonze ("Quero Ser John Malkovich"). Aí, fica fácil, dirá você. Com aquele pai e este marido, até eu. Não é verdade. Talento não é genético nem contagioso, e os filhos de Marlon Brando são a prova.
Baseado no romance de Jeffrey Eugenides, conta a história de uma família americana de classe média nos anos 70. Mãe carola e dominadora (Kathleen Turner, ótima), pai ausente e banana (James Woods, idem) e cinco filhinhas chegando à adolescência, lindas, loiras e cheias de amor.
Até que uma delas se suicida no dia do aniversário. A mãe acha que a culpa foi dela e fica cada vez mais opressora. As meninas vão enlouquecendo aos poucos. Até que... Tudo é narrado hoje em dia por Giovanni Ribisi, que fazia parte da turma de garotos da rua que idolatrava as meninas.
O filme tem um ar de "Clamor do Sexo" (61), especialmente no contraste, que vai ficando cada vez mais insuportável para a audiência, entre a repressão da mãe e o sexo latente das adolescentes. Principalmente da candidata a musa Kirsten Dunst (a vampirinha encaracolada de "Entrevista com o Vampiro", de 94).
Lembra também "Tempestade de Gelo" (97), de Ang Lee, ao retratar o vazio existencial em que se meteram os americanos depois que brigaram por todas as causas e lutaram em todas as guerras.
Talvez esse seja um dos poucos problemas de "As Virgens Suicidas": lembra muito outros filmes. Mas há uma inquietude que um dia pode levar Sofia Coppola a algum lugar perto do pai.


As Virgens Suicidas
Virgen Suicides
    Direção: Sofia Coppola Produção: EUA, 1999 Com: James Woods, Kirsten Dunst Quando: a partir de hoje no Belas Artes, Espaço Unibanco e Lumière




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