São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2000

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RELANÇAMENTOS
Voltam títulos dos anos 70

DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto que o titã Charles Gavin desenvolve na Warner/Continental chega a Tom Zé, recolocando em circulação, em dois volumes da série "Dois Momentos", quatro títulos fundamentais do artista nos anos 70.
Para o até há pouco maldito artista, faltam agora somente "Tom Zé" (70) e "Nave Maria" (84) para que sua discografia essencial esteja toda reeditada em CD. Os dois estão em poder da Globo. Os que chegam agora trazem o que de mais profundo e conflituoso o autor produziu em carreira errática.
Começa com "Se o Caso É Chorar" (72), em que Tom Zé se utiliza de clichês da canção tradicional para começar a dar forma nítida a seu próprio pop, feito de dissonâncias, estranhamentos e poesia concreta. "A Briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel" é a faixa mais conhecida; "Senhor Cidadão", a mais impressionante.
"Todos os Olhos" (73), o mítico disco do olho que não era um olho (e sim a "instação" de uma bola de gude num ânus), o apanha em momento de alta turbulência, radicalizando o experimentalismo (como vinham fazendo Walter Franco e Caetano).
Saem dali a ferina "Complexo de Épico" ("todo compositor brasileiro é um complexado", "vai ser sério assim no inferno"), a delicada "Augusta, Angélica e Consolação" e "O Riso e a Faca" (em que já reformulava "Jimi Renda-Se", de 70, agora regravada).
Vem aí "Estudando o Samba" (75), hoje mais conhecido como o LP que apaixonou David Byrne. Era a vez de Tom Zé desconstruir e acariciar o samba, empregando mais e mais experimentalismo. A linguagem é desmontada em faixas mínimas de nomes mínimos ("Tô", "Hein?" "Toc", "Se", "Mã"...); "A Felicidade", de Tom e Vinicius, vira uma tristeza só.
Enfim, em "Correio da Estação do Brás" (78), Tom Zé arrefece (mas não muito) o estranhamento, quase brincando de pop na nordestina "Morena", no samba "Lá Vem Cuíca", no épico da faixa-título, na caipira "Amor de Estrada". Dê-lhe linguagem. (PAS)


Série Dois Momentos
     Artista: Tom Zé Lançamento: Continental Quanto: R$ 20, em média, cada CD




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