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LIVRO
Obra vê capital do ponto de vista de seus habitantes
Alemanha publica retrato "nada chique" e humano de Brasília
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 50 anos escolhia-se o lugar
onde a nova capital do país viria a
ser construída, no Planalto Central. Passados esses anos, Carmen
Stephan, uma jornalista alemã, e
Gleice Mere, uma fotógrafa brasiliense, publicam na Alemanha
um livro que propõe uma visão da
cidade para além de sua utopia arquitetônica e urbanística.
"Brasília Stories", que terá lançamento festivo na Embaixada
Brasileira em Berlim em janeiro
de 2006 (mas ainda sem editora
no Brasil), reúne oito "retratos"
da capital do país, uma combinação de fotos e textos que tenta revelar a cidade do ponto de vista de
seus habitantes.
"Rio e São Paulo são bem conhecidos na Alemanha. Mas existe um interesse pela arquitetura e
pela idéia utópica de Brasília. Para
mim, no entanto, a cidade não é
mais utopia. Brasília existe, é uma
cidade moderna, tranqüila, bonita, com espaços grandes, que quase não se encontram mais. E também uma cidade com seus problemas fora do plano-piloto. Mas
ela existe fora da "Wallpaper" e de
outras revistas de design", afirma
Stephan, responsável pelo ponto
de vista alemão do livro.
"Gleice não gostava de ver que
na Europa o retrato de Brasília
fosse somente um retrato da arquitetura. Ninguém fala das pessoas, é como se ninguém morasse
lá, como se fosse um planeta longe. Por isso suas fotografias não
têm muito do chique que se conhece por aqui."
As histórias de "Brasília Stories"
são divididas por temas, entre eles
"construir Brasília", "crescer em
Brasília" e "o corpo", introduzidos por Stephan num texto sobre
"como chegar a Brasília".
A jornalista esteve pela primeira
vez em Brasília como turista, em
2002, quando morava no Rio, e
chegou a passar dois meses no escritório de Oscar Niemeyer, fazendo uma série de entrevistas.
"Fiquei muito impressionada.
Nunca vi um lugar que parecia tão
leve e ao mesmo tempo tão inacessível. Uma cidade atrás do vidro do carro, do vidro da janela
do hotel. Achei fascinante e me
perguntei: "Como se cresce aqui?
Que influência a arquitetura tem
nas pessoas? Como é a primeira
geração de Brasília?'", lembra ela.
Separados então por temas, os
personagens do livro fazem um
retrato bem diverso da cidade. Estão lá pioneiros como o orgulhoso
Raimundo Bento Araújo, pedreiro analfabeto que chegou a Brasília aos 15 anos para construir a cidade; a bailarina Eliana Carneiro,
que descobriu uma nova relação
com o corpo na cidade, e o artista
plástico Milton Marques, que participou no ano passado da Bienal
de São Paulo.
"Para ele, Brasília funciona como um laboratório, uma nova
idéia ou possibilidade. Essa é uma
vantagem da cidade para as pessoas que trabalham com arte: você precisa de criatividade em Brasília, ela não tem história, você faz
a história", sustenta Stephan.
"Brasília Stories", no entanto,
não é só um livro sobre brasilienses orgulhosos da cidade. "Tem
também um homem idoso que se
sente rejeitado pela cidade e guarda sentimentos muito ambivalentes em relação a Brasília. O livro
mostra a arquitetura e o urbanismo refletidos nessas pessoas", arremata a jornalista.
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