São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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MÚSICA

Cantora paulistana estréia em disco produzido por Beto Villares após temporadas de sucesso em casas noturnas da cidade

Céu amplia horizonte da "nova e moderna MPB"

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos rótulos na música brasileira são tão traiçoeiros quanto "a nova e moderna MPB". Afinal, o que há de novo ou moderno em um termo que é usado há anos para designar um sem número de artistas que parecem ter saído da mesma forma?
A paulistana Maria do Céu Whitaker Poças, 25, é nova para o grande público e moderna, já que é jovem, mas escapa por pouco dessa vala comum. Foi reduzindo ao máximo seu nome até chegar ao "Céu" que estampa seu primeiro disco e enxugou até onde pôde os vícios dos novidadeiros de plantão. E assim sonha alto.
Ela não cai na quase tara de toda bela cantora em primeiro disco que é tomar para si a afetada pose de "diva" e sair pelo Brasil como a mais nova e genial intérprete. Céu é co-autora de 12 das 15 faixas do disco e buscou os independentes. O CD sai pela Ambulante Discos, dos parceiros Antônio Pinto e Beto Villares. "Sou teimosa. Preferi esse caminho para não fazer concessões", diz Céu, sobre a possibilidade de trabalhar com grandes gravadoras. "Claro que gostaria de viver de música, mas não quero cantar coisas mais comerciais ou assinar contratos padrões."
Enquanto seu trabalho autoral não paga suas contas, Céu encontrou na publicidade e nas conexões de Antônio Pinto (que já cuidou de trilha de filmes de Walter Salles) uma maneira de divulgar sua voz, que pode ser ouvida no filme "Cidade Baixa" e no seriado "Cidade dos Homens" (Globo).
Para chegar à canção brasileira, Céu foi ao exterior. Vinda de uma família envolvida até os ossos com música -é filha de Edgard Poças, conhecido pelos trabalhos com o infantil Balão Mágico-, ela passou, em 1998, uma temporada em Nova York para estudar canto. Entre um trabalho de garçonete e outro, tocou em bares, aí sim com os inevitáveis standards brasileiros para gringos. "Toquei até em casa de churrasco." Foi por ali que conheceu Antônio Pinto e teve planos de fazer música.
Já de volta a São Paulo, entre uma mesa e outra do restaurante Spot, onde trabalhou como garçonete, começou a arquitetar com o produtor Beto Villares (Mestre Ambrósio, Zélia Duncan etc.) seu disco -que foi lançado primeiro para os franceses. "Coisas burocráticas de gravadora."
Apesar de ser um disco que deve, sim, agradar aos fãs da "nova e moderna MPB" -ouça "Malemolência" (e o refrão "Ai, menino bonito") ou o acento soul de "Lenda"-, o estalo para "Céu" veio também dos EUA. "O primeiro disco da Lauryn Hill ["The Miseducation of Lauryn Hill", 1998] mudou meu conceito de música. Além de cantar muito, ela ainda assina a produção... Isso sim é cantora." Ela cita ainda os afro-sambas de Baden Powell e Moacir Santos como influências.
É disco de artista a se acompanhar, como prenunciam a ótima "Rainha" ou a tristonha "Mais um Lamento", ambas climáticas e de acento setentista, com o baterista Pupillo, da Nação Zumbi. Para quem quiser conhecer Céu de perto, ela faz show gratuito no dia 30, às 21h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/ xx/11/3871-7700).


Céu
   
Lançamento: Ambulante Discos
Quanto: R$ 30


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