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MÚSICA
Cantora paulistana estréia em disco produzido por Beto Villares após temporadas de sucesso em casas noturnas da cidade
Céu amplia horizonte da "nova e moderna MPB"
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Poucos rótulos na música
brasileira são tão traiçoeiros
quanto "a nova e moderna MPB".
Afinal, o que há de novo ou moderno em um termo que é usado
há anos para designar um sem
número de artistas que parecem
ter saído da mesma forma?
A paulistana Maria do Céu
Whitaker Poças, 25, é nova para o
grande público e moderna, já que
é jovem, mas escapa por pouco
dessa vala comum. Foi reduzindo
ao máximo seu nome até chegar
ao "Céu" que estampa seu primeiro disco e enxugou até onde pôde
os vícios dos novidadeiros de
plantão. E assim sonha alto.
Ela não cai na quase tara de toda
bela cantora em primeiro disco
que é tomar para si a afetada pose
de "diva" e sair pelo Brasil como a
mais nova e genial intérprete. Céu
é co-autora de 12 das 15 faixas do
disco e buscou os independentes.
O CD sai pela Ambulante Discos,
dos parceiros Antônio Pinto e Beto Villares. "Sou teimosa. Preferi
esse caminho para não fazer concessões", diz Céu, sobre a possibilidade de trabalhar com grandes
gravadoras. "Claro que gostaria
de viver de música, mas não quero cantar coisas mais comerciais
ou assinar contratos padrões."
Enquanto seu trabalho autoral
não paga suas contas, Céu encontrou na publicidade e nas conexões de Antônio Pinto (que já cuidou de trilha de filmes de Walter
Salles) uma maneira de divulgar
sua voz, que pode ser ouvida no
filme "Cidade Baixa" e no seriado
"Cidade dos Homens" (Globo).
Para chegar à canção brasileira,
Céu foi ao exterior. Vinda de uma
família envolvida até os ossos
com música -é filha de Edgard
Poças, conhecido pelos trabalhos
com o infantil Balão Mágico-,
ela passou, em 1998, uma temporada em Nova York para estudar
canto. Entre um trabalho de garçonete e outro, tocou em bares, aí
sim com os inevitáveis standards
brasileiros para gringos. "Toquei
até em casa de churrasco." Foi por
ali que conheceu Antônio Pinto e
teve planos de fazer música.
Já de volta a São Paulo, entre
uma mesa e outra do restaurante
Spot, onde trabalhou como garçonete, começou a arquitetar com
o produtor Beto Villares (Mestre
Ambrósio, Zélia Duncan etc.) seu
disco -que foi lançado primeiro
para os franceses. "Coisas burocráticas de gravadora."
Apesar de ser um disco que deve, sim, agradar aos fãs da "nova e
moderna MPB" -ouça "Malemolência" (e o refrão "Ai, menino
bonito") ou o acento soul de
"Lenda"-, o estalo para "Céu"
veio também dos EUA. "O primeiro disco da Lauryn Hill ["The
Miseducation of Lauryn Hill",
1998] mudou meu conceito de
música. Além de cantar muito, ela
ainda assina a produção... Isso
sim é cantora." Ela cita ainda os
afro-sambas de Baden Powell e
Moacir Santos como influências.
É disco de artista a se acompanhar, como prenunciam a ótima
"Rainha" ou a tristonha "Mais um
Lamento", ambas climáticas e de
acento setentista, com o baterista
Pupillo, da Nação Zumbi. Para
quem quiser conhecer Céu de
perto, ela faz show gratuito no dia
30, às 21h, no Sesc Pompéia (r.
Clélia, 93, SP, tel. 0/ xx/11/3871-7700).
Céu
Lançamento: Ambulante Discos
Quanto: R$ 30
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