São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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CRÍTICA

Cantora cativa com despretensão e voz singela

DO ENVIADO A S. AMARO DA PURIFICAÇÃO

A remissão a Clementina tem seu porquê, mas está longe de desvelar o que há de precioso na estréia tardia em disco próprio de Dona Edith do Prato. A analogia do registro de uma voz entalhada pela idade serve só como ponto inicial.
Dona Edith chega ao CD com 22 anos a mais do que Clementina tinha em seu primeiro disco -e isso faz diferença. O que é impetuoso e visceral em Clementina, aquele vozeirão todo, é tratado com certa candura pela voz aguda e o jeito tímido de Dona Edith.
Mas o que há de mais valoroso está no resgate de um repertório de tradição oral, já perdido no tempo. Não se trata de culto às origens. A constatação vem do fato de que a releitura pop que trouxe o samba de volta à mídia, que poderia ter atualizado e, quiçá, enriquecido a matriz, resultou no rebuscamento oco -espelho de uma geração de gente sem história (leia-se artistas sem obra).
O samba-de-roda é avesso disso tudo. Formato de recursos mínimos, calcado na cantoria, é, no mais das vezes, conduzido pela marcação das palmas -adicionado, eventualmente, de um pandeiro, uma viola ou violão.
Nas letras, fala-se de todo dia, do que se extrai das festas religiosas, do efeito da natureza sobre a vida, da convivência pura e simples. É dessa despretensão que Dona Edith tira o vigor de sua música. De uma forma cativante e singela. (ISRAEL DO VALE)


Vozes da Purificação
    Artista: Dona Edith do Prato Lançamento: independente Quanto: R$ 15 (mais o custo do envio). Onde encomendar: tel. 0/xx/75/241-2665



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