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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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MÚSICA/"FOLKLORE"

Nelly Furtado começa disco juvenil e termina adulta

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Nelly Furtado não é só um rostinho bonito na música jovem. Ela, por exemplo, poderia fazer o que Britney Spears faz, garotas de (quase a) mesma idade. Mas, a julgar pelo sempre complicado segundo álbum, esse "Folklore", Furtado optou por assumir muitos riscos. E isso a torna especial.
A cantora luso-canadense tem um trânsito engraçado dentro do pop. Ela é capaz de manter boas relações com gente como a rapper suprema americana Missy Elliott e com o compositor brasileiro Caetano Veloso.
Faz sua música dialogar com um grupo como o Kronos Quartet e encara megafestivais de rock na Inglaterra, já dividindo palco com o Coldplay.
Talvez por alguma culpa de Nick Hornby e muito por causa de seu primeiro disco, "Whoa, Nelly!", seu segundo disco tenha vindo com uma carga de expectativa difícil de sustentar.
O escritor britânico, em 2002, empregou todos seus celebrados dotes pop-literários para mostrar como uma canção simples tal qual "I'm Like a Bird", o grande hit do primeiro CD de Furtado, podia fazer pequenos milagres dentro de um determinado contexto, o do pop a serviço de uma existência mais digna. E de uma vida que valha a pena ser vivida. Palavras dele.
"Folklore" mostra a mesma Nelly Furtado aventureira como sempre. Em 12 faixas, a cantora transcorre entre gêneros como o hip hop americano e o folk português. Fez uso do banjo de Béla Fleck, assim como em certos momentos parecia estar cantando, em português, como vocalista do 10CC, grupo de rock da Manchester da década de 70.
A "I'm Like a Bird" do novo disco é a deliciosa balada "The Grass Is Green", a faixa sete. Consegue ser simples e mágica na mesma intensidade, diria Nick Hornby.
A canção na qual Furtado "duela" com Caetano Veloso é "Island of Wonder", inspirada nos Açores e que não só tem partes sampleadas do álbum "Fina Estampa" como Caetano ainda emprestou nova voz para a música. É dessas que só não vai estar no próximo filme de Pedro Almodóvar se o cineasta espanhol não quiser.
A diversidade deste "Folklore" dilui o conjunto da obra. Começa pop juvenil e termina pop adulto. Mas é o risco que Nelly Furtado quis correr. Deixa ela.


Folklore
   
Artista: Nelly Furtado
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 35, em média



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