São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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SHOW

Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola se apresentam pela primeira vez com a Velha Guarda da Portela, em São Paulo

Três gerações tocam o melhor do samba

Felipe Varanda/Folha Imagem
Os sambistas Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola falam sobre show do domingo em SP, no bar Barril 8000, na Barra da Tijuca, no Rio


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Vindo de uma batelada de shows e já pensando no lançamento de seu próximo disco (março de 2005), Zeca Pagodinho queria tudo menos trocar sua família e sua cerveja por um show em São Paulo às vésperas do Natal. Mas um nome o fez mudar de idéia: Paulinho da Viola.
"Muita gente me liga: "Participa do meu disco, vai na minha casa". E eu fico pensando: "Vou nada". Mas, quando o Paulinho vai na minha casa, sinto a alegria que ele proporciona à minha geração. Então isso me motiva a fazer o mesmo pelos que estão vindo. Esse show eu estou fazendo em seu nome", diz Zeca para Paulinho, num encontro realizado pela Folha num bar da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio).
"Esse show" de que Zeca fala é a primeira apresentação aberta ao público de um encontro seu com Paulinho e a Velha Guarda da Portela. Antes, eles só haviam feito shows fechados para empresas. No domingo, cantarão na estrutura montada ao ar livre, ao lado do Credicard Hall, com capacidade para 15 mil pessoas.
O que o público paulista terá a chance de ver é o encontro do que há de melhor em três gerações de sambistas: Monarco, Casquinha e toda a tradição da Portela; Paulinho, 62, que é o melhor discípulo dos baluartes portelenses e, também, padrinho da Velha Guarda, criada em 1970 por iniciativa sua; e Zeca, 45, que vem revitalizando o samba -e projetando ainda mais a Velha Guarda- desde os anos 80.
"O bom momento do samba se chama Zeca", exalta Paulinho. "Nesses últimos 20 anos, muitos sambistas apareceram, mas a proposta dele é a mais forte e abrangente. O sucesso que ele faz é espontâneo. É ele mesmo, o jeito dele, o carisma dele", diz.
O jeito de Zeca é agitado e, como diz Paulinho, "fugidio". Participa da entrevista durante 15 minutos, levanta, volta para fazer mais uma foto, brinca com o fotógrafo ("Nosso abraço é verdadeiro, mas aqui não tem esse negócio de rostinho colado. É coisa de homem. O coração é que está junto"), levanta de novo. Concentra-se um pouco para exaltar o samba, sua devoção maior.
"Se [a mídia] abrir um pouco para o samba, a gente toma. Mas, se não tiver a mídia, a gente continua cantando e fazendo samba com alegria. Pode sair da TV, do rádio, mas não vai sair da gente. A gente canta samba no aniversário do cachorro, da vovó, da criança de um ano, sempre", diz Zeca.
Para Paulinho, o samba "não morre porque nosso povo não deixa". Ele lembra, que quando Zeca estourou pela primeira vez, em 1986, "não se tocava nem MPB no rádio", mas o samba conseguiu furar o bloqueio.
No início da década de 70, quando fazia shows com a Velha Guarda apresentando cantores e compositores desconhecidos do grande público (lançados por ele no disco "Portela, Passado de Glória"), a empatia era enorme. Foi assim num show em 1972, na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, para marcar os 50 anos da Semana de Arte Moderna.
"Era uma multidão de jovens. Nunca tinham visto o samba daquela forma, cantado por aquelas pessoas. No final do show, no clima da Semana de 22, a Vicentina, que era a principal voz feminina da Velha Guarda, começou a dançar e oferecer empadas ao público, que invadiu o palco", lembra.
A memória da Portela é uma das prioridades de Paulinho. Ele tem registros de muitos sambas feitos nas quadras da escola e nunca gravados. "Hoje, por causa das evoluções tecnológicas, são maiores as chances de manter isso registrado. A questão é como distribuir para a maioria", afirma.
A preocupação com a distribuição afeta também a carreira solo de Paulinho. Ele estuda a melhor forma de lançar seu próximo disco e adianta que deve produzi-lo por conta própria para depois negociar com alguma gravadora.
"Alguém vai ter que distribuir isso. Ou não", ressalva, com uma ponta de ironia. A boa notícia é que ele já tem um lote de músicas novas suficiente para um CD.
No show de domingo, Zeca cantará seus sucessos ("Deixa a Vida me Levar", "Verdade"...), Paulinho os seus ("Argumento", "Coração Leviano"...), a Velha Guarda terá seu bloco próprio e acompanhará os dois, e ainda haverá o momento Zeca/Paulinho.
Juntos, eles interpretarão "Recado", "No Pagode do Vavá" (ambas de Paulinho) e "Nervos de Aço" (Lupicínio Rodrigues), a maior surpresa do repertório.
"Eu não queria cantar. Além de estar com medo da música, estava com medo dele. Como vou cantar uma música dessa e com Paulinho da Viola? Tá maluco? Levaram quase 15 dias para me convencer", conta Zeca.

PAULINHO DA VIOLA, ZECA PAGODINHO E VELHA GUARDA DA PORTELA. Onde: anexo ao Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, tel. 0/xx/ 11/6846-6010). Quando: dom., às 18h. Quanto: R$ 40 (platéia em pé).


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