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CRÍTICA
Obra percorre esnobismo social da elite britânica
CÁSSIO STARLING CARLOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na época do anúncio do
Booker Prize para Alan
Hollinghurst, a imprensa britânica saudou o autor menos pelas qualidades narrativas da
obra e mais pelo fato de o vencedor ser um escritor gay, com
temática explicitamente gay.
Diante do texto, o leitor gay
pode até se interessar indiretamente por meio de alguns jogos de identificação oferecidos
pela ficção, mas o que tornaria
uma ficção mais ou menos interessante pelo fato de ser gay?
Para borrar a importância desse tipo de avaliação o instrumento mais eficaz é abrir o romance de Hollinghurst.
Um convidado. Até no sobrenome o jovem Nick Guest carrega a ambigüidade desse premiado "A Linha da Beleza".
Pois, ao mesmo tempo em
que vive à custa de uma certa
classe e experimenta seu típico
esnobismo social no período
de 1983 a 87, Nick é testemunha
das mutações históricas e morais vistas da ótica desse grupo.
Com base nessa tensão, Hollinghurst tece um painel geracional do Reino Unido no auge
do thatcherismo. Se fosse só isso, "A Linha da Beleza" seria só
interessante. O que o torna
atraente é a estrutura da degradação que acompanha o olhar
decadentista que Hollinghurst
lança a esse mundo.
Mas não se trata de um decadentismo à la Wilde (cujo herdeiro britânico seria Will Self)
e, sim, de um retratismo, cuja
referência explícita reivindicada no romance é Henry James.
Só que agora aquelas senhoras
e cavalheiros de moral ambígua estão movidos a tédio, cocaína e sexo a granel.
Protagonista e testemunha
onisciente, Nick Guest é o álibi
perfeito para Hollinghurst projetar seu olhar sobre aquela
Londres anos 80, mergulhada
na ascensão de jovens da elite
criada em Oxford (equivalente
britânico dos yuppies da era
Reagan, mas aqui carregados
do esnobismo upper class) e retratar seus valores (ou falta de).
Do narcisismo niilista dos personagens emana uma visão
bastante justa daquela época.
Melhor ainda, Hollinghurst
não se contenta em demonstrar a trajetória do grupo como
"depravação". Seu olhar moral
só adquire tonalidades moralistas quando descreve, com
ironia, as poses e atitudes do
grupo Tory, uma geração acima, mas não menos imbuída
de uma ética do tipo vale-tudo.
É do contraste desses dois
grupos, dessas duas linhas, que
o autor vai traçar sua linha da
beleza. E oferecer ao leitor um
dos mais bem construídos romances de deformação dos
nossos tempos.
A Linha da Beleza
Autor: Alan Hollinghurst
Tradução: Vera Whately
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 49,90 (464 págs.)
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