São Paulo, quinta, 17 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NIEMEYER, 90

Com um ano de atraso, SP recebe exposição que festeja o 90º aniversário do maior arquiteto brasileiro; três livros serão lançados no evento, a partir de hoje; prédio desenhado por ele sediará a quarta edição de bienal voltada para a área, marcada para o ano que vem, após o edifício passar por reforma.


Arquiteto exibe "amigos' visuais em SP

Antonio Gaudério/Folha Imagem
Funcionário dá os últimos retoques na ampliação da fotografia de Lucien Clergue que Niemayer mantinha em seu escritório no Rio


O arquiteto Oscar Niemeyer ao lado de uma de suas maquetes
da Reportagem Local

O escritor italiano radicado no Brasil Claudio Valentinetti, 49, encontrou um adjetivo curioso para sintetizar em uma só idéia a presença de edifícios de Oscar Niemeyer espalhados pelo mundo. "É como achar um amigo em qualquer lugar", define.
E tem razão: o brasileiro pode reconhecer com intimidade as curvas de Niemeyer em quatro dos cinco continentes. A partir de hoje, também é possível encontrar estes "amigos" visuais no Ibirapuera, em São Paulo, com a abertura de uma supermostra em homenagem ao criador de Brasília.
"Niemeyer 90 Anos" -na verdade, o arquiteto completou 91 anteontem- é uma exposição dividida em 11 setores, entre painéis fotográficos, maquetes, croquis, desenhos, obras de arte e móveis. Três livros serão lançados, entre eles o de Valentinetti, "Diálogo Pré-Socrático".
O livro é o resultado da entrevista que o escritor italiano, sobrinho de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, fez no ano passado com o criador de seus "amigos" arquitetônicos -o primeiro que conheceu foi o prédio da editora Mondadori, em Milão, onde trabalhou por 15 anos.
São perguntas e respostas curtas e sintéticas, em que o escritor, que hoje vive em Brasília, submete a Niemeyer uma série de nomes e conceitos sobre os quais o arquiteto dá sua opinião. "Não sei se Niemeyer é o maior arquiteto do Brasil, mas é o mais conhecido no exterior. Eu o admiro pela coerência, qualidade rara hoje em dia", diz.
Também será lançado pela primeira vez em português o livro "Niemeyer - Poeta da Arquitetura", de Jean Petit, autor de várias monografias sobre arquitetura.
Em outra obra, há o testemunho de amigos e admiradores de Niemeyer, como o escritor francês André Malraux, que diz: "O elemento arquitetural mais importante desde as colunas gregas são as colunas do Palácio da Alvorada."
Mais comedido, porém mais simpático, o compositor Chico Buarque conta o seu desapontamento em jamais ter visto erguida a casa que admirava no papel, projetada por Oscar Niemeyer para a sua família -o pai, Sérgio Buarque de Holanda, em um momento de aperto, vendeu o terreno.
"Desse modo", diz Chico, "a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira. Senti-me traído, tornei-me um rebelde, (...) saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar!"
O "compositor quando jovem" acabou sendo mandado para um colégio interno projetado pelo arquiteto, e, não satisfeito, entrou para a Faculdade de Arquitetura. "Decidi-me a ser Oscar eu mesmo", diz Chico.
Há ainda volumes sobre arquitetura dirigidos ao público especializado, em edição popular, que mostram, por meio de 12 projetos, o processo de criação de Niemeyer, com os respectivos croquis.
Em vídeo, um documentário inédito traz uma entrevista com o arquiteto feita pelo escritor Fernando Morais, mostrando a intimidade de seu escritório no Rio, reconstruído cenograficamente para a exposição com o objetivo de revelar Niemeyer a partir do seu espaço físico -raramente ele deixa o escritório, onde vive e trabalha.
Livros, revistas, prêmios, medalhas e documentos originais também são exibidos, ao lado de croquis originais e de 13 peças do mobiliário criado pelo arquiteto.
Seria também impensável uma mostra sobre Oscar Niemeyer que não incluísse os artistas plásticos intrinsecamente ligados a sua obra -e eles estão lá, em trabalhos de Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti, Athos Bulcão, Carybé, entre outros. (CYNARA MENEZES)
²


O quê: Exposição "Niemeyer 90 Anos"
Onde: Pavilhão Manoel da Nóbrega do Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, acesso pelo portão 10)
Quando: até 25/1, de ter. a dom. das 11 às 17h
Quanto: grátis
²
Livro: Diálogo Pré-Socrático com Oscar Niemeyer
Autor: Claudio Valentinetti
Lançamento: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi
Quanto: R$ 19 (125 págs.)
²
Livro: Niemeyer - Poeta da Arquitetura
Autor: Jean Petit
Lançamento: Fidia Edizioni d'Arte
Quanto: R$ 100 (444 págs.)





Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.