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TEATRO
Destaque da dramaturgia americana atual, o autor finalmente debuta no Brasil com "SubUrbia", que estréia em SP
Eric Bogosian atualiza o tédio de Tchecov
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais conhecido no país pela
atuação no cinema (é o cínico
disc-jóquei do filme "Talk Radio",
1988, dirigido por Oliver Stone,
roteiro que partiu da sua peça homônima), o dramaturgo Eric Bogosian, um dos destaques do teatro americano contemporâneo,
finalmente chega aos palcos brasileiros: a montagem de "SubUrbia" (94) estréia hoje no Sesc Anchieta, em São Paulo, com encenação de Francisco Medeiros.
Em entrevista por e-mail à Folha, de Nova York, Bogosian, 47,
associa o tédio e a falta de perspectiva dos sete jovens de "SubUrbia" à atmosfera que domina
os textos do russo Anton Tchecov
no final do século passado.
A peça também chegou ao cinema, quatro anos atrás, num filme
de Richard Linklater. Bogosian
transita nas duas áreas com conhecimento de causa. Atuou, por
exemplo, em "Desconstruindo
Harry" (97), de Woody Allen.
Em meio a projetos para TV, cinema e teatro, lançou em 2000 seu
primeiro romance, "Mall".
Folha - Pode-se relacionar o tédio
dos jovens de "SubUrbia" com o
mesmo sentimento dos personagens de Tchecov?
Eric Bogosian - Eu estudava "As
Três Irmãs" quando escrevi "SubUrbia". Eu amo Tchecov, sobretudo sua aguda observação da
condição humana. A influência
de Tchecov, particularmente de
"As Três Irmãs", é múltipla em
"SubUrbia". São peças que expõem um conjunto atuando. Isso
é uma coisa particularmente forte
no meio teatral, a capacidade de
apresentar um grupo de pessoas
de uma forma mais ou menos democrática. Nenhum personagem
se sobressai como protagonista, e
assim a peça vai se desdobrando
em caminhos difusos. Nenhum
ator tem um papel pequeno. Outros aspectos importantes são a
ambição dos jovens em mudar do
local em que vivem, a distância
das grandes cidades, o descontentamento com a política sexual. Isso lembra Tchecov.
Folha - A abordagem sócio-política é uma constante em suas peças?
Bogosian - Minhas peças realmente giram em torno de temas
sociais. Eles emergem intuitivamente e espero que permaneçam
na interpretação dos personagens
(novamente vejo Tchecov). Em
outras palavras, eu não acho que
teatro é lugar para sermão, para
audiência sobre algum tema. Mas,
se esses temas surgem no meu
pensamento (e isso acontece), então têm lugar na minha arte.
Folha - Seis anos depois da estréia, qual sua perspectiva em relação aos jovens que têm esse perfil
em qualquer lugar do planeta?
Bogosian - Eu escrevi a peça sobre meus amigos, não especificamente, mas de uma maneira geral. A juventude tem uma energia
e um idealismo terríveis. Tristemente, sem uma perspectiva
apropriada, essa energia é dissipada, perdida. Eu transcendi minha situação original e tive sorte
de deixar uma cidade simples e
honesta, de classe média, para fazer parte de um mundo mais sofisticado. Encaro aqui como a juventude vê o passado e a desinformação que tem do mundo, quando descobre como o mundo realmente funciona. Encontro essas
coisas nos livros. Acho que a falta
de educação é a grande tragédia e
perda de nossa juventude.
Folha - Há algum aspecto autobiográfico em "SubUrbia"?
Bogosian - Só depois de ter escrito a peça eu percebi que tinha escrito sobre mim mesmo. O personagem Jeff é muito parecido comigo aos 20 anos.
Folha - Como situa sua dramaturgia na cena contemporânea dos
EUA?
Bogosian - Como todo jovem artista de teatro, eu fui excessivamente nas raias da tradição da
dramaturgia de Harold Pinter,
Edward Albee e, mais tarde, me
aproximei do assim chamado teatro experimental, particularmente de Richard Foreman. Quando
eu fui para Nova York, em 75, perdi interesse no teatro tradicional e
comecei a me envolver com um
grupo de artistas plásticos, que
tornou-se famoso. Entre os mais
conhecidos, estavam Robert Longo e Cindy Sherman. Esses artistas enfatizavam uma volta dos arquétipos familiares para a cultura.
Eu comecei a fazer teatro a partir
desse modelo e o tempo todo fui
desenvolvendo minha própria
voz, baseada em personagens da
família, mas, ao mesmo tempo,
arquetípicos. Não poderia explicar melhor. Escrevo do jeito que
penso. Nunca me pensei dentro
de um movimento, a não ser com
os amigos artistas visuais.
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