São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2001

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Secretário não prorroga "Apocalipse"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Apocalipse 1,11" não alcançará o novo milênio. Pelo menos em São Paulo, não mais. A montagem do grupo Teatro da Vertigem, que saiu de cartaz no dia 17 de dezembro, por ocasião das festividades de fim de ano, não poderá mais ocupar o presídio desativado do Hipódromo, no Brás (zona leste).
O secretário estadual de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, ligou anteontem para o diretor Antônio Araújo e disse que não irá prorrogar a temporada do espetáculo nos meses de fevereiro e março, como desejava o grupo.
Furukawa, 51, alega que o prédio do Hipódromo, no qual já funciona o Departamento de Saúde do Sistema Penitenciário, começou a receber este mês parte dos arquivos do centro de documentação dos estabelecimentos carcerários do Estado, que será instalado no local.
"Também iremos transferir para o prédio, possivelmente até março, a sede da Secretaria de Administração Penitenciária, que hoje funciona em prédio alugado da região central", diz Furukawa. O aluguel custa cerca de R$ 9.000.
"Isso, infelizmente, inviabilizou que atendêssemos ao pedido do grupo", afirma o secretário. A produção de "Apocalipse 1,11" havia conseguido a prorrogação do final da temporada em pelo menos duas ocasiões: de agosto para novembro e desse mês até 17 de dezembro.
"Ficamos tristes e baqueados com essa medida. Queríamos muito fazer um fechamento, uma despedida digna do envolvimento do público de São Paulo com o espetáculo", diz o encenador Antônio Araújo, 34.
Ele também lamenta a ruptura da relação do Teatro da Vertigem com o Brás, bairro que até então estava fora do circuito teatral da cidade.
Para ocupar o presídio, desde o final de 99, a produção de "Apocalipse 1,11" comprometia-se em doar materiais para infra-estrutura do prédio ou para instituições sociais. Era a forma de compensar o não-pagamento de taxa pelo uso de espaço público.
Na semana passada, Araújo e os dramaturgos Fernando Bonassi e Marcos Caruso (este representando a Apetesp) reuniram-se com Furukawa e membros de sua equipe, entre eles o diretor do Departamento de Saúde da secretaria, José Nunes de Abreu, em busca de negociação. O secretário pediu um prazo até anteontem para decidir sobre o assunto.
Furukawa não descarta a utilização do presídio do Hipódromo para fins artísticos. A produção do filme "Estação Carandiru", dirigido por Hector Babenco, solicitou o espaço para locações.
"O Babenco pediu quatro dias, para maio ou junho, mas só será autorizado se as filmagens não prejudicarem a rotina da administração", afirma o secretário. "Estação Carandiru" será uma adaptação do livro de mesmo nome do médico Drauzio Varella.
Não há perspectiva de outro espaço para "Apocalipse 1,11" em São Paulo. No momento, a produção busca um presídio para uma possível temporada no Rio, a partir de abril, como previa o cronograma do grupo, que agora permanecerá ocioso até lá.
O espetáculo, que recebeu sete indicações para o Prêmio Shell 2000 (SP) e já foi apresentado em Curitiba e em Lisboa, tem convite para o Festival Internacional de Caracas, em abril, mas depende de apoio para as passagens do elenco e equipe técnica. (VS)


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