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ROCK IN RIO
Tom Zé faz manifesto por "desintoxicação" em música
Ana Ottoni/Folha Imagem
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O cantor e compositor baiano Tom Zé, que faz show amanhã na Tenda Brasil |
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A agenda de Tom Zé mostra
que o compositor baiano tem,
neste mês, dois compromissos
com eventos que pregam a solidariedade. O primeiro será no Rock
in Rio, amanhã, na Tenda Brasil.
O segundo, no anfiteatro Pôr-do-Sol, em Porto Alegre, no dia 29,
dentro do Fórum Social Mundial.
Para a Cidade do Rock, o artista
leva um "remédio" para curar a
intoxicação provocada por tanto
rock'n'roll concentrado na programação. Vai mostrar uma música inédita, "Desenrock-Chamegá", e um manifesto, "Rock in
Rio, o Ministério da Saúde e a Desintoxicação Rockal".
Na capital gaúcha, onde ONGs,
intelectuais e artistas se reúnem,
entre os dias 25 e 30, para discutir
os efeitos da globalização na sociedade, Tom Zé fará show e levará sua proposta para o futuro da
humanidade: "Uma espécie de
tratamento psiquiátrico para o
mundo dominante".
A música "Desenrock-Chamegá" já está no site da Trama
(www.trama.com.br). Leia abaixo
os principais trechos da entrevista
que Tom Zé concedeu à Folha.
Folha - O Rock in Rio clama "por
um mundo melhor", e o fórum em
Porto Alegre quer discutir alternativas à globalização para melhorar
as condições do desenvolvimento
humano. O que você acha?
Tom Zé - Se o fórum está preocupado com a vida no planeta, é difícil o evento do Rio defender o
mesmo. Não quero dizer que eles
não devam fazê-lo. Quando o político mais fascista fala em democracia, não quer dizer que a gente
deva apontar o dedo e dizer: "Que
coisa horrível, esse cara falando
em democracia, é mentira". Mas,
no caso do Rio, acho que o gesto
de colocar a mensagem no cartaz
é superficial. Um grande show
vende uma porção de coisas.
Folha - Você fez uma canção para
o Rock in Rio?
Tom Zé - Sim, são 24 shows por
dia, 168 em sete dias, e terão pelo
menos 13 repetidoras - Internet,
rádio e TV; 168 vezes 13 dá 2.184
shows. Com uma média de oito
canções por show, teremos mais
de 17 mil rocks. Cada um tem no
mínimo 32 compassos, com a repetição dá 64. São 17 mil vezes 64,
o que dá mais de 1 milhão de compassos. Não sei se as autoridades
sanitárias estão avisadas da possibilidade de intoxicação. Meu
show será uma desintoxicação.
Folha - Como você vê sua participação em Porto Alegre?
Tom Zé - Esse tipo de evento tem
de reunir o homem e a mulher do
mundo. A mulher do mundo sou
eu. A mulher do mundo é a arte, a
intuição feminina, a gravidez cósmica. A humanidade tem de comer, preservar a espécie, vestir e,
longinquamente, precisa de uma
proteína social chamada rebeldia.
Eu atendo a sociedade quando ela
precisa de rebeldia. Meu papel é
desbotar o tailleur das musas, torcer o nariz do bom gosto oficial.
Folha - Os críticos dos movimentos anticapitalismo dizem que faltam propostas alternativas à globalização. Você tem a sua?
Tom Zé - Aceito a crítica. Não tenho capacidade de organizar a sociedade. Penso que o Império Romano e o babilônico não duraram
a vida toda, parece que, depois de
um tempo, as sociedades querem
se matar. O planeta hoje é dominado por uma parte da sociedade.
O mundo rico está cansado da vida e quer se suicidar com o mundo todo de uma vez. A minha proposta de globalização seria uma
espécie de tratamento psiquiátrico para o mundo dominante e pedir que não se suicide agora.
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