São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROCK IN RIO

Tom Zé faz manifesto por "desintoxicação" em música
Ana Ottoni/Folha Imagem
O cantor e compositor baiano Tom Zé, que faz show amanhã na Tenda Brasil



SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A agenda de Tom Zé mostra que o compositor baiano tem, neste mês, dois compromissos com eventos que pregam a solidariedade. O primeiro será no Rock in Rio, amanhã, na Tenda Brasil. O segundo, no anfiteatro Pôr-do-Sol, em Porto Alegre, no dia 29, dentro do Fórum Social Mundial.
Para a Cidade do Rock, o artista leva um "remédio" para curar a intoxicação provocada por tanto rock'n'roll concentrado na programação. Vai mostrar uma música inédita, "Desenrock-Chamegá", e um manifesto, "Rock in Rio, o Ministério da Saúde e a Desintoxicação Rockal".
Na capital gaúcha, onde ONGs, intelectuais e artistas se reúnem, entre os dias 25 e 30, para discutir os efeitos da globalização na sociedade, Tom Zé fará show e levará sua proposta para o futuro da humanidade: "Uma espécie de tratamento psiquiátrico para o mundo dominante".
A música "Desenrock-Chamegá" já está no site da Trama (www.trama.com.br). Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Tom Zé concedeu à Folha.

Folha - O Rock in Rio clama "por um mundo melhor", e o fórum em Porto Alegre quer discutir alternativas à globalização para melhorar as condições do desenvolvimento humano. O que você acha?
Tom Zé -
Se o fórum está preocupado com a vida no planeta, é difícil o evento do Rio defender o mesmo. Não quero dizer que eles não devam fazê-lo. Quando o político mais fascista fala em democracia, não quer dizer que a gente deva apontar o dedo e dizer: "Que coisa horrível, esse cara falando em democracia, é mentira". Mas, no caso do Rio, acho que o gesto de colocar a mensagem no cartaz é superficial. Um grande show vende uma porção de coisas.

Folha - Você fez uma canção para o Rock in Rio?
Tom Zé -
Sim, são 24 shows por dia, 168 em sete dias, e terão pelo menos 13 repetidoras - Internet, rádio e TV; 168 vezes 13 dá 2.184 shows. Com uma média de oito canções por show, teremos mais de 17 mil rocks. Cada um tem no mínimo 32 compassos, com a repetição dá 64. São 17 mil vezes 64, o que dá mais de 1 milhão de compassos. Não sei se as autoridades sanitárias estão avisadas da possibilidade de intoxicação. Meu show será uma desintoxicação.

Folha - Como você vê sua participação em Porto Alegre?
Tom Zé -
Esse tipo de evento tem de reunir o homem e a mulher do mundo. A mulher do mundo sou eu. A mulher do mundo é a arte, a intuição feminina, a gravidez cósmica. A humanidade tem de comer, preservar a espécie, vestir e, longinquamente, precisa de uma proteína social chamada rebeldia. Eu atendo a sociedade quando ela precisa de rebeldia. Meu papel é desbotar o tailleur das musas, torcer o nariz do bom gosto oficial.

Folha - Os críticos dos movimentos anticapitalismo dizem que faltam propostas alternativas à globalização. Você tem a sua?
Tom Zé -
Aceito a crítica. Não tenho capacidade de organizar a sociedade. Penso que o Império Romano e o babilônico não duraram a vida toda, parece que, depois de um tempo, as sociedades querem se matar. O planeta hoje é dominado por uma parte da sociedade. O mundo rico está cansado da vida e quer se suicidar com o mundo todo de uma vez. A minha proposta de globalização seria uma espécie de tratamento psiquiátrico para o mundo dominante e pedir que não se suicide agora.


Texto Anterior: Peça revive criação da primeira vila do país
Próximo Texto: Letra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.