São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2002

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CINEMA

Interpretações femininas fortes, como de Nicole Kidman e Christina Ricci, são destaques da edição deste ano do festival

Sundance, 20, se entrega às mulheres

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A PARK CITY (UTAH)

Aos 20 anos, Sundance se rende às mulheres. O festival de cinema, que acontece até este domingo em Park City (Estado de Utah), foi invadido por interpretações femininas fortes, tanto na mostra dramática (competitiva) quanto nas premières exclusivas.
Lidera a última categoria Nicole Kidman, na pele de uma mulher russa de aluguel em "Birthday Girl". O filme é bom, dirigido pelo dramaturgo Jez Butterworth, em seu segundo longa-metragem. Mas se perde um pouco no final, ao concluir a história do inglês reprimido e sem horizontes (Ben Chaplin) que encomenda uma companheira pela internet (a própria), que vai se revelar diferente do que ele esperava.
Nicole Kidman, no entanto, conseguiu de novo. Pela terceira vez consecutiva nos últimos meses. Seja como a loura gélida e hitchcockiana de "Os Outros" e a dançarina sexy e tuberculosa de "Moulin Rouge" (um dos dois deve valer sua indicação ao Oscar), seja agora como a russa Nadia. Detalhe: ela está morena.
Detalhe 2: ela fala a primeira palavra em inglês só na metade do filme (exatamente "birthday", aniversário, o dela, a personagem, no caso). Detalhe 3: ela aparece nua de novo, o que faz a platéia masculina pensar em Tom Cruise, e não de uma maneira exatamente elogiosa.

Rachel apanha
Outra que literalmente parou as ruas da gelada e nevada Park City foi Jennifer Aniston, a Rachel de "Friends". A atriz veio a Sundance com o marido, Brad Pitt, para a estréia mundial de seu "The Good Girl". A princípio, ninguém levou a sério, não por acaso: sua carreira cinematográfica até agora não a recomenda.
Mas não é que a menina está muito bem no papel de Justine, uma texana vendedora de supermercado que quer mudar de vida e apanha do marido? Parte da culpa é do diretor Miguel Arteta. O porto-riquenho é um nome a ser descoberto pelos brasileiros.
Dirigiu o esquisito longa "Chuck & Buck", vira e mexe comanda episódios de uma das melhores séries em cartaz na TV americana, "Six Feet Under", e ajudou a criar com Scorsese a morta (e ótima) sitcom "Freaks and Geeks". Em suas mãos, a esquemática e estigmatizada Rachel virou mulher de verdade.
"Essa imagem que tenho de boa moça é um fardo que eu carrego", disse Jennifer Aniston em entrevista coletiva. "Além de ser frustrante, enche o saco."
Fecha o pacote a caçula Christina Ricci. Uma das atrizes mais consistentes de sua geração, ela é mais lembrada como a Wednesday de "A Família Adams". Pois aparece aqui em "Pumpkin", em que atua e também produz (ao lado de não outro que Francis Ford Coppola). O filme é sério, bom e um dos fortes candidatos ao prêmio dramático.
Em entrevista, a precoce atriz de 21 anos deu um cala-a-boca na inconsequência da galera MTV formada por suas colegas de mesma idade: "As atrizes têm de começar a levar as coisas mais a sério. Não dá mais para se desculpar ao fazer qualquer filme dizendo: "Só faço isso para ganhar dinheiro, não conta nada'".
Por fim, ainda na linha "o que querem as mulheres", vale destacar "Blue Car", um delicado drama exibido na mostra não-competitiva American Spectrum, que revela a atriz Agnes Bruckner, 16, como uma adolescente em busca de identidade. Agnes Bruckner. Guarde este nome. Pode ser a próxima Nicole Kidman.



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