São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2002

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"A TARTARUGA MANUELITA"

Diretor é "Walt Disney argentino"

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Embora nascido na Espanha, Manuel García-Ferré, 73, é até hoje chamado de "o Walt Disney argentino". "Acho que somos parecidos apenas no fato de tentar trazer um algo mais para a garotada. Um filme precisa ter consistência, não pode ser só efeitos especiais. "Star Wars", por exemplo, não tem história. Por isso, aos 20 minutos, já aborrece a platéia", retruca.
Com "A Tartaruga Manuelita", que entra hoje em cartaz em 118 salas no Brasil, García-Ferré quer fazer uma homenagem às crianças. "Os adultos podem ver qualquer coisa, qualquer barbaridade, mas com os mais novos você tem de tomar mais cuidado, porque eles estão sendo formados."
A protagonista do filme é uma pequena tartaruga que, sem querer, embarca numa viagem dentro de um balão até Paris e se torna uma modelo famosa, enquanto tenta voltar para sua cidade natal, a pequena aldeia de Pehuajó. "Sua personalidade se define na música do balão: "Se tens um sonho e quer alcançá-lo, precisa se decidir a voar". E é o que ela faz, indo em busca do que deseja."
O desenho animado inaugura uma parceria entre o SBT -que comprou os direitos de exibição- e a Warner -responsável pela distribuição no Brasil. Ainda não estão definidos outros títulos a serem lançados pelo acordo.
Baseado numa canção infantil escrita por María Elena Walsh há 40 anos, "Manuelita" foi o longa escolhido para representar a Argentina entre os concorrentes a uma indicação a melhor filme estrangeiro no Oscar de 99 e bateu a megaprodução "Tarzan", da Disney, em seu país natal, com mais de 2,3 milhões de espectadores.
"Mudei um pouco o enredo da canção. Na versão de Walsh, a tartaruga vai para a Europa para fazer uma cirurgia plástica e tirar as rugas de seu rosto. Ela quer ficar bonita para o noivo. Mas, como é muito lenta, demora muito para voltar e, quando chega em casa, já está tão velha e enrugada que o noivo não a quer. Já no filme tentei usar uma filosofia mais otimista para exaltar os valores morais, da família e do companheirismo."
Segundo o cineasta, o filme tem uma certa nostalgia. "Há diretores que têm vergonha, mas eu acho o romantismo algo eterno, que nunca vai sair de moda."
Embora García-Ferré defina o filme como "para crianças", insere personagens e menções fora do repertório infantil, como aparições do quadro "O Quarto Azul", de Van Gogh, e de uma das clássicas bailarinas de Toulouse-Lautrec, ou de Edith Piaf e Carlos Gardel em caricaturas. "São como se fossem piscadelas para as crianças e seus pais, para acrescentar algo em sua cultura geral."
A dublagem foi coordenada pelo SBT, que aproveitou a oportunidade para usar o casting da casa. Jackeline Petkovic dubla Manuelita, e Babi faz sua mãe. Após a pré-estréia de "A Tartaruga Manuelita", no último sábado, o diretor aprovou as vozes. "Fiquei convencido com as escolhas."

Crise
García-Ferré já fez cinco longas e sete filmes para a TV e acha que é preciso continuar a fazer cinema, não importam as dificuldades. "Estavam fazendo lindos filmes antes da crise na Argentina, como "O Filho da Noiva", "O Pântano" e "Nove Rainhas". Não sei se vai haver uma queda. Não temos o nível de investimento de "O Senhor dos Anéis", mas podemos produzir para outros mercados além do local." "Manuelita", por exemplo, tem propostas para lançamento em Portugal, Uruguai, México, Itália, França e Chile.
Em ritmo industrial, o diretor já começou um novo filme, chamado "La Galiña Turoleca" (A Galinha Turoleca). "Já estamos com o storyboard pronto", conta. Mas não diz quem já está no elenco. "As vozes vão se resolvendo durante o processo de feitura do filme. É como o ovo e a galinha, conforme vamos achando as vozes certas, vamos encaixando nos personagens, porque tem de haver unidade entre voz e desenho."



A TARTARUGA MANUELITA. La Tortuga Manuelita. Direção: Manuel García-Ferré. Produção: Argentina, 1999. Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Gemini, Morumbi e circuito.


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