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MÚSICA/LANÇAMENTOS
Ao lado de músicos do México, Vietnã e Camarões, o astro
do jazz Pat Metheny lança CD "universal" e diz que world music é "baboseira"
Sem fronteiras
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Seu modo afetuoso de dedilhar
a guitarra e sua vasta cabeleira
desgrenhada são dois ícones dos
últimos 30 anos do jazz.
Desde que lançou o seminal
"Bright Size Life", em 1975, uma
das marcas da fusão desse gênero
musical com o rock, Pat Metheny
até ganhou alguns tons de cinza
no penteado, mas sua música não
ficou grisalha.
No próximo dia 12, o guitarrista
mais famoso do universo jazzístico mostra isso pela quadragésima
vez. Nesse dia, ele lança nos Estados Unidos o CD "Speaking of
Now", que a Warner promete trazer ao Brasil assim que as cinzas
carnavalescas assentarem.
No novo trabalho, o dono de sete Grammys volta a trabalhar sob
a égide do Pat Metheny Group,
um dos conjuntos mais duradouros da história do jazz.
Desta vez, o grupo vem com nova equipe na cozinha. Ficam os
veteranos Lyle Mays (piano) e
Steve Rodby (baixo), entram o
mexicano Antonio Sanchez (bateria), o camaronês Richard Bona
(multiinstrumentos) e o vietnamita Cuong Vu (trompete).
Com essa "liga das nações" nas
costas, o "brasilófilo" Metheny,
47, apresenta um trabalho ainda
mais sem fronteiras.
Na terça-feira, o artista, que tem
mais de cem shows agendados até
meados de julho, do Canadá à Coréia, abriu brecha em seu calendário e falou com a Folha sobre
"Speaking of Now". "É um dos
melhores trabalhos que já fiz."
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Depois de quase 30 anos
de gravações com formação mais
ou menos estável, o Pat Metheny
Group ganha três novos integrantes. Como a chegada de instrumentistas dos Camarões, do México e
do Vietnã influenciou na linguagem do conjunto?
Pat Metheny - O novo CD traz as
maiores mudanças na trajetória
existencial do Pat Metheny
Group. O mais importante é que
assimilamos músicos vindos de
históricos diferentes e ao mesmo
tempo continuamos nossa história. Fazíamos e fazemos jazz. Tudo gira em torno da idéia da improvisação. Por mais controverso
que possa parecer dizer atualmente que se está fazendo jazz,
quando todos querem dizer que
ele morreu, é isso o que fazemos.
Folha - Então você não concorda
com músicos como o baixista Marcus Miller, que declarou em recente
entrevista à Folha que o jazz é como o latim: lindo, mas morto?
Metheny - Não. O jazz está vivíssimo. É um dos principais fomentadores da cultura mundial. Infelizmente, a cultura de modo geral
vive uma espécie de ponto baixo.
Hoje em dia, música é quase que
uma arte para dançar. O jazz é
grandioso porque é uma das poucas músicas que realmente pede
muito dos ouvintes. Eu mesmo
exijo muito deles.
Folha - Por que você diz que a cultura vive um "ponto baixo"?
Metheny - Mais do que um ponto baixo, diria que estamos em fase de transição. O mundo de modo geral está em choque com a
inacreditável explosão das comunicações nos últimos 50 anos.
Acho que vai levar pelo menos
mais cem anos para que essa
exaustão cultural possa ser digerida. Basta pensar nas limitações
que as pessoas tinham há um século em lidar com informações
alheias a suas vidas e em como somos bombardeados 24 horas por
dia por sons, notícias, propagandas. É devastador. Para qualquer
lado que você olhe tem uma foto
de uma mulher seminua, um
anúncio, um "tum-tum-tum".
Folha - Como você acredita que
"Speaking of Now" dialoga com os
"bombardeios de informações"?
Metheny - Creio que este CD, como toda a minha produção, não
lida diretamente com a saturação
cultural. Sempre produzi uma linguagem muito pessoal, pois acredito que os enunciados mais pessoais têm impacto universal. Por
outro lado, reconheço que nossa
música ficou muito mais densa e
que isso reflete de algum modo os
bombardeios culturais.
Folha - Em um artigo da revista
"Time" no ano passado, o baixista
Charlie Haden definiu sua música
como "cultura americana impressionista contemporânea". O que
você acha disso?
Metheny - Não sei. A única coisa
que posso dizer é que meu trabalho é encontrar as notas certas.
Não sei se é jazz, fusion, world
music. Música é uma coisa só.
Não gosto de dividir nem em música clássica ou popular, em música americana ou brasileira. A primeira vez que fui ao Brasil, em
1979, me senti em casa de um jeito
que nunca sentira em lugar algum. Eu e os músicos brasileiros
falamos a mesma língua. Cresci
escutando Tom Jobim, assim como Charlie Parker. Músicos brasileiros cresceram escutando Miles Davis e Milton Nascimento.
Mas não diria música brasileira
ou música americana. Pior ainda
é world music. É uma baboseira.
Estamos todos no mundo e ele é
pequeno e vem sendo pequeno há
tempos, sobretudo na música.
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