São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

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Trama lançará "Racional" em CD

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois lançamentos, duas fases de Tim Maia. O primeiro, o DVD "Programa Ensaio" (Trama/TV Cultura, R$ 42) já está nas lojas. É o Tim Maia de sempre, falastrão, irônico, divertido, conversando e cantando para Fernando Faro, numa noite de 1992. Imperdível.
Os fãs, porém, se coçam de ansiedade é por outro lançamento, prometido pela Trama para março: a reedição de dois álbuns "Tim Maia Racional, Volumes 1 e 2", gravados na fase mais pirada e genial do músico, que na época largou as drogas para mergulhar de cabeça na estranhíssima seita Universo em Desencanto.
Ninguém entendeu nada quando Tim surgiu numa tarde de meados de 1974 todo de branco, com uma bíblia debaixo do braço, a fala mansa, repetindo ensinamentos do seu mais novo guru espiritual, um português maluco chamado Jacinto Coelho, criador da Universo em Desencanto. Seria como se Roberto Carlos, de uma hora para outra, saísse por aí pregando os benefícios terapêuticos do LSD e elegesse como mestre Timothy Leary.
Ninguém entendeu, mas todo mundo adorou. Tim trocou o baseado matinal por cereais, deixou de cheirar e beber e passou a cantar como nunca. Até as tradicionais olheiras sumiram. As letras não eram grande coisa nem poderiam -eram inspiradas na seita de Jacinto, o sujeito que tinha como dom ativar a "glândula pineal" dos fiéis. Coisa de maluco. Mas o som era de pirar. Música de negão, com o vozeirão puro e evangélico de Tim. Não é à toa que David Bowie quer gravar sua versão de "Que Beleza".
Quem sofreu mesmo com a fase pineal de Tim foram os músicos e os parentes. Sua banda parecia mais um bloco dos Filhos de Gandhi. Todo mundo vestido de branco, da cabeça aos pés. Reza a lenda que o cantor chegou a ameaçar de demissão o guitarrista Robson Jorge, por este ter se negado a pintar de branco sua guitarra fender.
Em casa, o pastor Tim enlouqueceu a família. Jogou todos os eletrodomésticos coloridos pela janela, inclusive um fogão vermelho novinho em folha. Só se salvou a velha geladeira branca. O filho Carmelo foi proibido de comer carne vermelha e sua irmã, de pintar as unhas de cor-de-rosa.
Na época, Tim deixou de participar de programas de TV, pois, como ainda existia um número grande de aparelhos em preto-e-branco, as emissoras não permitiam que uma banda se apresentasse totalmente de branco.
Seis meses depois de muita reza, Tim Maia voltou à velha forma: mandou Jacinto e sua glândula pineal às favas, entregou sua alma ao diabo e foi ser feliz. (TC)


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