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Trama lançará "Racional" em CD
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dois lançamentos, duas fases de
Tim Maia. O primeiro, o DVD
"Programa Ensaio" (Trama/TV
Cultura, R$ 42) já está nas lojas. É
o Tim Maia de sempre, falastrão,
irônico, divertido, conversando e
cantando para Fernando Faro,
numa noite de 1992. Imperdível.
Os fãs, porém, se coçam de ansiedade é por outro lançamento,
prometido pela Trama para março: a reedição de dois álbuns "Tim
Maia Racional, Volumes 1 e 2",
gravados na fase mais pirada e genial do músico, que na época largou as drogas para mergulhar de
cabeça na estranhíssima seita
Universo em Desencanto.
Ninguém entendeu nada quando Tim surgiu numa tarde de
meados de 1974 todo de branco,
com uma bíblia debaixo do braço,
a fala mansa, repetindo ensinamentos do seu mais novo guru espiritual, um português maluco
chamado Jacinto Coelho, criador
da Universo em Desencanto. Seria como se Roberto Carlos, de
uma hora para outra, saísse por aí
pregando os benefícios terapêuticos do LSD e elegesse como mestre Timothy Leary.
Ninguém entendeu, mas todo
mundo adorou. Tim trocou o baseado matinal por cereais, deixou
de cheirar e beber e passou a cantar como nunca. Até as tradicionais olheiras sumiram. As letras
não eram grande coisa nem poderiam -eram inspiradas na seita
de Jacinto, o sujeito que tinha como dom ativar a "glândula pineal" dos fiéis. Coisa de maluco.
Mas o som era de pirar. Música de
negão, com o vozeirão puro e
evangélico de Tim. Não é à toa
que David Bowie quer gravar sua
versão de "Que Beleza".
Quem sofreu mesmo com a fase
pineal de Tim foram os músicos e
os parentes. Sua banda parecia
mais um bloco dos Filhos de Gandhi. Todo mundo vestido de
branco, da cabeça aos pés. Reza a
lenda que o cantor chegou a
ameaçar de demissão o guitarrista Robson Jorge, por este ter se
negado a pintar de branco sua
guitarra fender.
Em casa, o pastor Tim enlouqueceu a família. Jogou todos os
eletrodomésticos coloridos pela
janela, inclusive um fogão vermelho novinho em folha. Só se salvou a velha geladeira branca. O filho Carmelo foi proibido de comer carne vermelha e sua irmã,
de pintar as unhas de cor-de-rosa.
Na época, Tim deixou de participar de programas de TV, pois,
como ainda existia um número
grande de aparelhos em preto-e-branco, as emissoras não permitiam que uma banda se apresentasse totalmente de branco.
Seis meses depois de muita reza,
Tim Maia voltou à velha forma:
mandou Jacinto e sua glândula pineal às favas, entregou sua alma
ao diabo e foi ser feliz.
(TC)
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