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Português é o novo idioma da Índia!!!
Com estreia amanhã, "Caminho das Índias" traz de volta as "licenças poéticas" de Gloria Perez, para quem cobranças desse tipo são "tolice'
Recordista de Ibope, a autora de "América" e "O Clone" fala à Folha sobre a nova trama, que deve gerar no Brasil uma onda de ioga e roupa indiana
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo bem que "A Favorita",
especialmente nos últimos capítulos, abusou da boa vontade
do público em embarcar em
histórias absolutamente impossíveis e incoerentes. Mas a
despedida rocambolesca de
Faísca e Espoleta não deve chegar aos pés do que aguarda o telespectador a partir de amanhã,
quando estreia a nova novela
das oito, "Caminho das Índias".
Por mais que qualquer telenovela em algum momento
despreze a verossimilhança,
nenhum autor da Globo hoje é
páreo para o "despudor" de
Gloria Perez, que assina a trama. Em "Caminho das Índias",
a herdeira do estilo de Janete
Clair (1925-1983) voltará a disparar seu arsenal de "licenças
poéticas", no qual, só para ficar
em um exemplo, as viagens entre o Brasil e as cidades indianas onde se passam as histórias
são rápidas e simples como a
ponte-aérea Rio-São Paulo.
O mesmo superavião que
transportará personagens do
Rio a Jaipur e Agra, famosa pelo Taj Mahal, já levou o elenco
de "O Clone" (2001/02) a cruzar os mais de 7.400 quilômetros entre a capital fluminense
e Marrocos em poucas horas.
Isso sem falar da salada de
idiomas que dominou, além de
"O Clone", "América" (2005),
suas duas novelas anteriores,
também baseadas em intercâmbios, como será "Caminho
das Índias". Mas é exatamente
esse "tempero exótico" que faz
de Perez uma das líderes de audiência do horário nobre. E esse tipo de cobrança está longe
de lhe tirar o sono: "Ah, não
gasto ouvido escutando tolice",
afirma a autora à Folha.
"É o mesmo que não gostar
de "Ben-Hur" porque falava inglês e não latim, que abominar
"Gandhi" por não ter sido filmado em hindi, que ridicularizar o
cinema porque, em todos os filmes, o táxi está sempre na porta quando alguém precisa ou
apedrejar "A Favorita" porque,
de dupla sertaneja a presidiária, Flora desembarcou com a
maior desenvoltura na presidência de uma grande empresa", compara a novelista.
"Inshalá"
Perez conta que os personagens indianos, entre eles o casal
protagonista interpretado por
Márcio Garcia e Juliana Paes
(leia texto ao lado), falarão em
português e sem sotaque, diferentemente do que acontecia,
por exemplo, com o grego de
Tony Ramos em "Belíssima"
(2005/06), de Silvio de Abreu.
"Mas há um trabalho de prosódia, para que pronunciem corretamente o que deve ser dito
em hindi ou sânscrito."
Algumas cenas, como as de
rituais religiosos, serão faladas
em sânscrito, conta Perez, com
a consultoria de indianos.
E certamente teremos a onda
indiana no Brasil, como aconteceu com o "Clone", quando os
brasileiros repetiam "inshalá",
curtiam a dança do ventre e
usavam as bijuterias e maquiagens da muçulmana Jade (Giovanna Antonelli). Agora, o
boom deverá ser da ioga, praticada pelos protagonistas de
"Caminho das Índias", e de
roupas indianas, como o sári,
um pano enrolado no corpo, e
punjabis, calça com uma bata.
A autora conta ter se inspirado em produções de Bollywood, a indústria cinematográfica da Índia, além de "filmes de
arte" do país. "Os filmes são importantes para se observar costumes, tradições, rituais, gestuais e comportamentos."
Nada de Flora
Os fãs de Flora não devem ter
esperanças. A maldosa de "Caminho das Índias", interpretada por Letícia Sabatella, nada
tem a ver com a vilã pop de Patrícia Pillar em "A Favorita", de
acordo com Perez. "Ela não vai
assassinar ninguém. A ideia é
mostrar como funciona a mente de um psicopata", afirma.
A vilã, desta vez, está inserida
no que a autora chama de
"campanha pelos usuários da
saúde mental", que terá também um personagem esquizofrênico vivido por Bruno Gagliasso. "Toda vez que um psicopata comete uma atrocidade,
é posto no mesmo rol que os
loucos. Isso alimenta o preconceito. Loucura e psicopatia são
condições inversas. Loucura é
doença tratável. Psicopatia é
estrutura de personalidade e
não tem tratamento, ao menos
por enquanto. A loucura implica um excesso de sentimento,
já a psicopatia é a ausência deles. O psicopata é pura razão."
Além desse "merchandising
social", que debaterá inclusive
a existência de manicômios no
país e a inserção dessas pessoas
no mercado de trabalho, "Caminho das Índias" falará dos
problemas do ensino público e
"da falta de limites que se observa na juventude de hoje".
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